quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Estudo liga remédios para renite e insônia a maior risco de demência

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Um estudo ligou medicamentos usados regularmente, incluindo remédios contra insônia, depressão e rinite alérgica, à demência.

Pesquisadores da Universidade de Washington acompanharam a saúde de 3.434 pessoas com 65 anos ou mais que não tinham sinais de demência no início do estudo.

Eles observaram registros médicos e de medicamentos para determinar quantos tinham ingerido remédios com o efeito anticolinérgico, quais as doses e quantas vezes. Então, compararam esses dados com diagnósticos subsequentes de demência nos 10 anos seguintes.

O estudo, divulgado na publicação científica Jama Internal Medicine, apontou que doses mais elevadas e o uso prolongado destes medicamentos estavam ligados a um risco maior de demência em idosos. O perigo aumentava se o consumo fosse diário por três anos ou mais.

Todos os medicamentos listados têm efeito anticolinérgico, que bloqueiam um neurotransmissor chamado acetilcolina.

Os mais usados foram os antidepressão, tratamentos anti-histamínicos para alergias, como rinite, ou contra a insônia, e para tratamento de incontinência urinária. A maioria dos remédios só é vendida com prescrição médica.

Todo medicamento pode ter efeito colateral, e as bulas destes remédios alertam para a possibilidade de redução da capacidade de atenção e memória, e boca seca. Mas pesquisadores disseram que usuários deveriam estar cientes de que eles podem estar ligados a um risco maior de demência.

O estudo

Ao longo do estudo, 797 dos participantes desenvolveram demência.

O estudo estimou que as pessoas que tomaram pelo menos 10 mg/dia de doxepin (antidepressivo), 4 mg/dia de difenidramina (auxílio para dormir), ou 5 mg/dia de oxibutinina (contra incontinência urinária) por mais de três anos teriam um risco maior de desenvolver demência.

Os pesquisadores disseram que médicos e farmacêuticos poderão adotar uma abordagem preventiva e oferecer tratamentos diferentes como consequência do estudo. E, quando não houver alternativa, poderiam dar a menor dose pelo menor tempo possível.

Alguns dos participantes do estudo concordaram em serem submetidos a uma autópsia após a morte, disse a médica Shelly Gray, que participou do estudo. "Vamos analisar a patologia cerebral e ver se podemos encontrar um mecanismo biológico que pode explicar os nossos resultados".

Simon Ridley, chefe de pesquisa do grupo britânico Alzheimer's Research UK, disse que o estudo é interessante, mas não definitivo, já que, segundo ele, não há evidências de que essas drogas causem demência.

Já Doug Brown, da Sociedade de Alzheimer da Grã-Bretanha, disse: "Há preocupações de que o uso regular de certos medicamentos com efeitos anticolinérgicos, como soníferos e tratamentos de rinite, por pessoas mais velhas pode aumentar o risco de demência em determinadas circunstâncias, o que é apoiado por este estudo".

"No entanto, ainda não está claro se este é o caso, ou se os efeitos observados são resultado do uso a longo prazo ou vários episódios de curto prazo. É necessária uma pesquisa mais robusta para entender quais são os potenciais perigos, e se algumas drogas são mais propensas a terem este efeito do que outras.

"Gostaríamos de incentivar que médicos e farmacêuticos estejam cientes desta potencial ligação e aconselhem qualquer pessoa preocupada a falar com seu médico antes de parar com qualquer medicação".

Fonte: BBC Brasil

domingo, 25 de janeiro de 2015

Novo medicamento para tratar psoríase em placas é aprovado pela FDA

O Cosentyx (secukinumabe) foi aprovado pela Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos, para o tratamento de adultos com psoríase em placas moderada a grave.

A psoríase é uma doença auto-imune, crônica e não contagiosa. A psoríase em placas é uma forma comum da doença e apresenta placas secas, avermelhadas com escamas prateadas ou esbranquiçadas. Essas placas coçam e algumas vezes doem, podendo atingir todas as partes do corpo, inclusive as regiões genitais e a mucosa da boca. Em casos graves, a pele em torno das articulações pode rachar e sangrar.

A substância ativa do Cosentyx é o secukinumabe. Secukinumabe é um anticorpo que se liga a uma proteína que está envolvida na inflamação, a interleucina 17 A (IL-17A). Ao ligar-se à IL-17A, o secukinumabe a impede de se ligar ao seu receptor e inibe a sua capacidade para desencadear resposta inflamatória, que desempenha um papel importante no desenvolvimento das placas de psoríase.

O Cosentyx é administrado por uma injeção sob a pele. Ele é destinado a pacientes que são candidatos à terapia sistêmica (tratamento com substâncias que agem através da corrente sanguínea depois de serem tomadas por via oral ou injetável), fototerapia (tratamento com luz ultravioleta) ou uma combinação de ambos.

A segurança e eficácia do Cosentyx foram estabelecidas em quatro ensaios clínicos com um total de 2.403 participantes com psoríase em placas que eram candidatos à fototerapia ou à terapia sistêmica. Os participantes foram aleatoriamente designados para receber Cosentyx ou placebo. Cosentyx mostrou maior resposta clínica do que o placebo, deixando a pele limpa ou quase clara, como avaliado pela pontuação da dimensão, natureza e gravidade das alterações psoriáticas da pele.

Cosentyx está sendo aprovado com um alerta para informar aos pacientes que, por ser um medicamento que afeta o sistema imunológico, os pacientes podem apresentar maior risco de contrair uma infecção. Reações alérgicas graves foram relatadas com o uso de Cosentyx. Devem ser tomadas precauções quando se considera o uso desta nova medicação em pacientes com infecção crônica ou história de infecção recorrente e em pacientes com doença de Crohn ativa. Os efeitos colaterais mais comuns incluem diarreia e infecções respiratórias superiores.

Cosentyx é comercializado pela Novartis Pharmaceuticals Corporation, em East Hanover, New Jersey.

Fonte: FDA News Release, de 21 de janeiro de 2015 - NEWS.MED.BR.

FDA aprova o primeiro dispositivo neuroregulador para tratar a obesidade

vbloc-665x385O sistema Maestro Rechargeable System, o primeiro dispositivo para tratar a obesidade aprovado pela FDA desde 2007, é aprovado para tratar pacientes com 18 anos ou mais que não tenham sido capazes de perder peso com um programa de perda de peso, e que têm um índice de massa corporal de 35 a 45 kg/m², com pelo menos uma outra condição relacionada à obesidade, tais como diabetes mellitus tipo 2 e hipertensão arterial.

O índice de massa corporal (IMC), que mede a gordura corporal com base no peso corporal de um indivíduo e a sua altura, é usado para definir as categorias de obesidade. De acordo com Centers for Disease Control and Prevention (CDC), mais de um terço de todos os adultos americanos são obesos e pessoas com obesidade têm um risco aumentado para doença cardíaca, acidente vascular cerebral (AVC), diabetes tipo 2 e certos tipos decâncer.

O sistema Maestro Rechargeable System consiste em um gerador de pulso elétrico recarregável, fios condutores e eletrodos implantados cirurgicamente no abdome. Ele funciona através do envio de pulsos elétricos intermitentes para os troncos do nervo vago abdominal, que está envolvido na regulação do esvaziamento doestômago e sinalização para o cérebro de que o estômago se sente vazio ou cheio. Embora seja conhecido que a estimulação da atividade elétrica bloqueia a atividade do nervo entre o cérebro e o estômago, os mecanismos específicos para a perda de peso devido à utilização do novo dispositivo são desconhecidos.

Controladores externos permitem que o paciente possa carregar o dispositivo e que os profissionais de saúdeajustem as configurações do dispositivo, a fim de fornecer a terapia adequada com os mínimos efeitos colaterais.

A segurança e eficácia do Maestro Rechargeable System foram avaliadas em um estudo clínico que incluiu 233 pacientes com IMC de 35 kg/m² ou superior. A perda de peso e os eventos adversos de 157 pacientes que receberam o dispositivo (grupo experimental) foram comparados aos de 76 pacientes no grupo controle que receberam um gerador de impulsos elétricos não ativado. Após 12 meses, o grupo experimental perdeu 8,5% mais do seu excesso de peso do que o grupo controle. Cerca de metade (52,5%) dos pacientes no grupo experimental perdeu, pelo menos, 20% do seu excesso de peso e 38,3% dos pacientes do grupo experimental perdeu, pelo menos, 25% do seu excesso de peso.

O estudo clínico não cumpriu o seu objetivo original, que era do grupo experimental perder pelo menos 10% mais do excesso de peso do que o grupo controle. No entanto, um comitê consultivo da FDA (Gastroenterology and Urology Devices Panel) encontrou nos dados de 18 meses de acompanhamento uma perda de peso sustentada e concordou que os benefícios do dispositivo superam os riscos do uso em pacientes que preencheram os critérios de indicação propostos para o uso do dispositivo.

Ao considerar os benefícios e os riscos do dispositivo em sua revisão do Maestro Rechargeable System, a FDA considerou o estudo clínico e as recomendações do comitê. Além disso, a Agência avaliou uma pesquisa patrocinada pela FDA relativa às preferências dos pacientes por dispositivos de obesidade que mostrou que um grupo de pacientes aceitaria os riscos associados ao dispositivo implantado cirurgicamente para alcançar os valores de perda de peso que deverão ser fornecidos pelo dispositivo.

Como parte da aprovação, o fabricante deve realizar um estudo de cinco anos após a aprovação que seguirá pelo menos 100 pacientes e coletará dados de segurança e eficácia adicionais, incluindo a perda de peso, os eventos adversos, revisões cirúrgicas, retiradas do dispositivo e mudanças nas condições relacionadas àobesidade.

Os eventos adversos mais sérios relatados no estudo clínico foram náuseas, dor no local do neurorregulator,vômitos, bem como complicações cirúrgicas. Outros eventos adversos incluíram dor, azia, problemas dedeglutição, arrotos, náusea leve e dor torácica.

O Maestro Rechargeable System é fabricado pela EnteroMedics de St. Paul, em Minnesota.

Fonte: FDA News Release, de 14 de janeiro de 2015 – News.Med.Br, 2015.

sábado, 24 de janeiro de 2015

O que fazer quando o celular se molha?

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Há muitas situações em que você pode acabar molhando seu celular. Pode ser que o aparelho caia do seu bolso na privada, você se molhe em uma tempestade ou entre na piscina com ele.

Mas isso não é o fim do mundo (nem de suas fotos, arquivos, vídeos e agenda de contatos), ainda que especialistas considerem improvável que o celular volte a funcionar plenamente.

Vale dizer que é possível prevenir que o contato com água danifique o celular - por exemplo, colocando o aparelho em uma bolsa plástica ou passando nele um material conhecido como Liquipel, que torna o telefone resistente a água.

Mas, se você não tomou essas precauções, seguem algumas ideias sobre o que fazer quando o celular se molha:

1. Tire-o da água o mais rápido possível

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Esse é o primeiro impulso de qualquer dono de celular - e é preciso segui-lo.

Também é preciso secar o aparelho com o que estiver à mão: papel, toalha, camiseta ou pano.

2. Não religue o aparelho

Esse é o segundo impulso mais comum nessa hora, mas é preciso ter cuidado. Se o celular desligou, o pior que se pode fazer é religá-lo, pois isso pode gerar um curto-circuito.

Caso o celular não tenha delisgado ao se molhar, faça isso.

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3. Tire a bateria e o cartão SIM

Para evitar que os circuitos elétricos do aparelho entrem em funcionamento é bom retirar sua bateria (e qualquer capa de proteção que esteja no celular).

Uma vez feito isso, seque seu interior com um guardanapo com muito cuidado.

Há celulares que não permitem que o usuário retire sua bateria, como alguns modelos da Nokia e o iPhone. Nesse caso, desligá-los é suficiente.

Também é recomendável tirar o cartão SIM e secá-lo.

4. Retire a água

Sem usar agressividade demais, é uma boa ideia tirar a água do aparelho batendo-o de leve contra uma superfície.

Também vale assoprar e puxar as gotas de água que se encontram em seu interior com um aspirador.

Feito isso, há algumas opções sobre o que fazer em seguida.

5. Coloque o aparelho no arroz

Coloque o celular em um recipiente seco, que pode ser um pote de vidro ou de plástico e cubra o aparelho com arroz cru.

Feche o pote e o coloque em um lugar seco, onde bata um pouco de sol.

Depois de 24 horas, retire o celular do pote e tente ligá-lo.

Essa técnica foi aprovada em muitos testes que podem ser conferidos na internet - e a lógica por trás dela é que o arroz absorve a umidade que ficou no aparelho.

6. Coloque-o sob o sol

Se não tiver arroz à mão, outra opção é colocar o celular sob o sol, sobre um guardanapo.

Não deixe o aparelho assim por muito tempo, porque isso pode gerar um superaquecimento e danificar a tela.

Para evitar esse problema, use também um ventilador para ajudar a secá-lo.

7. Use outro produto que absorve umidade

Alguns blogs recomendam usar outros produtos no lugar do arroz para absorver a umidade do aparelho.

Entre eles, cuscuz, pacotes de gel de sílica e areia usada nas caixas de fezes para gatos (limpa, é claro).

Quando achar que a umidade já foi suficientemente absorvida, tente religar o aparelho.

Pode não funcionar: isso depende de quanto o celular se molhou, e acima de tudo, de quais chips e circuitos dentro do aparelho foram afetados.

Não se trata de uma ciência exata, mas de um último recurso para salvar o telefone. Mas, ao menos, você tentou.

Fonte: BBC Brasil

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Por dentro da mente em estado vegetativo

"Imagine acordar e perceber que você está trancado dentro de uma caixa", diz Adrian Owen. "É uma caixa que envolve você com tanta perfeição e é tão bem ajustada a seu corpo que ela prende seus lábios, lhe impedindo de falar, mesmo que possa perceber o que acontece ao seu redor."

Owen e eu estamos conversando por Skype. Eu, em Londres, e ele, a mais de 5,5 mil quilômetros, na Universidade de Western Ontario, no Canadá. Owen aparece em minha tela e vai ficando cada vez mais animado ao falar do tormento dessas pessoas sem voz: seus pacientes.

Pessoas que estão no chamado estado vegetativo podem abrir e até mover os olhos. Podem sorrir, agarrar a mão de alguém, chorar, gemer e grunhir. Mas não conseguem reagir a um ruído repentino ou entender o que é dito à sua volta.

Elas parecem ter perdido suas memórias, suas emoções e suas intenções – todas as qualidades que fazem de cada um de nós um indivíduo. Ainda assim, de vez em quando nos perguntamos se elas não teriam mesmo um pouco de consciência do que está acontecendo.

Uma década atrás, a resposta seria um redondo "não". Mas agora é diferente. Usando aparelhos de tomografia e ressonância magnética, Owen descobriu que algumas pessoas podem estar presas em seu próprio corpo mas conseguem pensar e sentir em intensidades variáveis.

Decisão consciente

Mentes aprisionadas, danificadas ou com capacidade diminuída habitam clínicas e asilos em todo o mundo. Só na Europa, estima-se que cerca de 230 mil pessoas entrem em coma a cada ano, das quais aproximadamente 30 mil ficarão em um permanente estado vegetativo. Elas representam um dos mais trágicos e caros casos da medicina intensiva moderna.

Ressonância magnética funcional de cérebro

Esses pacientes apareceram pela primeira vez com a criação do respirador artificial, durante os anos 50, na Dinamarca. Foi uma invenção que redefiniu o conceito de morte, até então declarada quando o coração parava de bater e hoje decidida com base na paralisação das atividades cerebrais.

Nos anos 60, o neurologista americano Fred Plum e o neurocirurgião escocês Bryan Jennett realizaram um trabalho pioneiro na compreensão e classificação dos distúrbios de consciência. Plum cunhou o termo "síndrome do encarceramento" para definir o estado no qual o paciente está desperto e consciente, mas não pode se mexer nem falar.

Os dois cientistas adotaram a classificação "estado vegetativo permanente" para os pacientes que, segundo eles, "alternam períodos de despertar, quando seus olhos abrem e se movem, mas têm respostas limitadas a movimentos de reflexo e nunca conseguem falar".

Tomografia reveladora

Em 1997, a professora britânica Kate Bainbridge, então com 26 anos, entrou em coma e permaneceu em estado vegetativo após contrair uma infecção. Ela se tornou a primeira paciente a ser estudada pelo Centro de Imagens Cerebrais da Universidade de Cambridge, onde Adrian Owen trabalhava.

Os resultados dos estudos, publicados um ano depois, foram inesperados e extraordinários. Kate não só reagia ao ver rostos conhecidos como também as respostas de seu cérebro eram semelhantes àquelas de voluntários saudáveis.

Ela se tornou a primeira pessoa na qual exames sofisticados, como a tomografia por emissão de pósitrons (PET, na sigla em inglês), revelaram uma "cognição oculta".

As conclusões foram importantíssimas para a ciência, mas também para Kate e seus pais. "A existência de um processamento cognitivo preservado removeu o niilismo que permeava o cuidado desses pacientes, e apoiou a decisão de continuar um tratamento intensivo com Kate", lembra David Menon, pesquisador naquela unidade da Universidade de Cambridge e médico que supervisionou o caso de Kate.

Seis meses depois do primeiro diagnóstico, Kate despertou do estado vegetativo.

Sua recuperação foi gradual. Só 12 anos depois conseguiu voltar a falar, e ainda precisa de cadeira de rodas. "Eu não respondia e parecia não ter saída, mas foram as tomografias que mostraram que eu ainda estava ali", conta.

Cena de 'Fale com Ela", de Pedro Almodóvar

Em um campus ao sul de Liège, na Bélgica, Steven Laureys estuda há décadas pacientes em estado vegetativo. Nos anos 90, tomografias PET mostraram que seus pacientes respondiam ao ouvirem seus próprios nomes: havia uma mudança no fluxo de sangue dentro da região cerebral responsável pela audição.

Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, Nicholas Schiff descobria que alguns pacientes com lesões cerebrais catastróficas mantinham pequenas regiões de atividade neural.

Em 2006, Owen e Laureys tentavam encontrar uma maneira de se comunicar com pacientes em estado vegetativo. Uma destas era Gillian [seu nome verdadeiro foi trocado a pedido], de 23 anos, atropelada por dois carros ao atravessar a rua falando no celular.

Cinco meses depois, um estranho acaso permitiu que Gillian destrancasse a caixa em que vivia. A chave surgiu de um estudo sistemático que os dois cientistas desenvolveram um ano antes.

Eles pediram para voluntários saudáveis se imaginarem jogando tênis. Em seguida, deviam imaginar que estavam caminhando pelos vários aposentos de suas casas.

A visualização de um jogo de tênis ativa uma parte do córtex responsável pela estimulação mental de movimentos, a área motor suplementar. Mas imaginar caminhar pela casa ativa o giro parahipocampal, que fica no centro do cérebro, além do lobo parietal posterior e o córtex premotor lateral.

São modelos de atividades completamente opostos, como se jogar tênis fosse um "sim" e andar pela casa fosse um "não".

Observando o cérebro de Gillian com o tomógrafo, Owen pediu que ela se imaginasse nas mesmas situações – e viu uma incrível semelhança entre os padrões de ativação que notou nos voluntários. Foi um momento eletrizante. Owen podia "ler" a mente de Gillian.

Diagnósticos mais baratos

O caso de Gillian foi publicado na revista científica Science em 2006 e ganhou as manchetes em todo o mundo. Mas atraiu uma boa quantidade de ceticismo por parte de cientistas que gostariam de ver mais evidências.

Em 2010, Owen, Laureys e outros colegas publicaram um estudo com 54 pacientes diagnosticados em estado vegetativo ou minimamente conscientes. Cinco responderam da mesma maneira que Gillian.

Os cientistas admitiram que as áreas cerebrais que eles estudaram podem ser ativadas com outros estímulos. Mas afirmaram que "as ativações persistiam por tempo demais para significar outra coisa senão intenção".

Desde o artigo de 2006, estudos feitos na Bélgica, na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos e no Canadá sugerem que uma parcela significativa dos pacientes classificados como vegetativos nos últimos anos receberam um diagnóstico errado – segundo Owen, 20% deles. Já Schiff acredita que 40% desses pacientes, quando examinados com mais atenção, mostram estar parcialmente conscientes.

Schiff acredita que após o primeiro diagnóstico, pouco esforço é feito no sentido de explorar a função cerebral desses pacientes de maneira mais sistemática. Alguns cientistas estão desenvolvendo leituras com equipamentos mais baratos e mais portáteis do que o pesado maquinário de tomografia e ressonância magnética. Uma promessa é o eletroencefalograma que está sendo testado por Owen.

Schiff acredita que uma combinação de aparelhos, medicamentos e terapias celulares poderá servir de base para uma nova geração de diagnósticos e tratamentos, iluminando a penumbra entre o consciente e o inconsciente.

Muitos dos trabalhos realizados até hoje demonstraram a importância das imagens cerebrais para esses pacientes, com alguns deles sendo até capazes de dizer a seus médicos se precisam ou não de analgésicos.

Fonte: BBC Brasil

domingo, 18 de janeiro de 2015

Inatividade mata mais do que obesidade, indica pesquisa

Foto: Thinkstock

A falta de exercício pode estar matando o dobro de pessoas se comparada à obesidade, sugere um estudo feito por 12 anos, que incluiu mais de 300 mil pessoas na Europa.

Pesquisadores da Universidade de Cambridge registraram cerca de 676 mil mortes por ano por inatividade, contra 337 mil por conta de excesso de peso.

Eles concluíram que pelo menos 20 minutos diários de caminhada rápida poderiam gerar benefícios substanciais.

Especialistas afirmam, ainda, que exercício físico é benéfico para pessoas de qualquer peso.

Obesidade e sedentarismo, muitas vezes andam de mãos dadas. No entanto, sabe-se que as pessoas mais magras têm um maior risco de problemas de saúde se forem inativas. E as pessoas obesas que se exercitam têm melhores condições de saúde do que pessoas inativas.

O estudo, publicado no American Journal of Clinical Nutrition, tenta trazer à tona os perigos da inatividade e da obesidade.

Inatividade mata

Os pesquisadores acompanharam 334.161 europeus por 12 anos. Eles avaliaram os níveis de exercício e a circunferência das cinturas a cada morte.

"O maior risco (de morte precoce) está associado aos classificados como inativos, sejam com peso normal, sobrepeso ou obesidade", disse às BBC News Ulf Ekelund, um des pesquisadores envolvidos no estudo.

Ekelund afirma que eliminar a inatividade na Europa cortaria as taxas de mortalidade em cerca de 7,5%, ou 676 mil mortes, mas eliminar a obesidade reduziria a mortalidade em apenas 3,6%.

"Mas não acho que seja caso de um ou outro. Nós também devemos nos esforçar para reduzir a obesidade, e a atividade física deve ser reconhecida como uma estratégia muito importante de saúde pública", acrescentou Ekelund.

Ekelund, que faz pelo menos cinco horas de exercício vigoroso toda semana, afirma que uma caminahada rápida todo dia é suficiente para transformar a saúde.

"Vinte minutos de atividade física, o equivalente a uma caminhada rápida, é algo possível de incluir em qualquer trajeto para o trabalho, ou em intervalos de almoço, ou à noite, em vez de assistir TV", sugere.

Os males causados por inatividade e obesidade são, em grande parte, os mesmos, como doença cardiovascular. No entanto, a diabetes tipo 2 é mais comum entre os obesos.

Fonte: BBC Brasil

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Os misteriosos ingredientes da linguiça

A máxima "O que os olhos não veem, o coração não sente" parece ser bem aceita pelas pessoas que preparam nossa comida. De queijos cremosos que saem de um spray a água mineral preta, são muitos os alimentos que ingerimos sem nem nos perguntarmos como são produzidos.

Mas a linguiça é um "playground" à parte. Dentro daquela membrana é possível amontoar todo tipo de substância – e não só partes menos sofisticadas de animais, como cartilagens e miúdos. Algumas linguiças à venda no mercado incluem ingredientes inusitados como arroz, casca de laranja, mandioca e batata, e outros até de gosto bem particular, como temperos, banana e até sangue animal.

Outros produtos entram na receita para dar textura, cor e sobrevida à linguiça: farinha de trigo, migalhas de pão, derivados da soja e carragena, uma goma extraída de algas que servem para dar liga.

Finalmente, para melhorar o perfil nutricional, pesquisadores já tentaram acrescentar à mistura nozes, tomates e até kimchi, um repolho com molho picante muito popular na Coreia do Sul.

Agora, entra na lista de aditivos da linguiça a salicórnia, uma planta da qual você nunca tenha ouvido falar, mas que tem sido seriamente estudada e que, até agora, tem uma longa carreira em outras indústrias, como a do vidro. Seu nome se refere a diferentes grupos de plantas que crescem em salinas e que parecem uma pilha de picles minúsculos.

Questão de textura

Em um recente estudo publicado na revista Meat Science, uma equipe de cientistas sul-coreanos examinou como a salicórnia pode servir para reduzir a quantidade de sal adicionado nas linguiças. A planta é naturalmente bastante salgada, já que cresce nessas águas, e ainda têm um bom teor de fibras.

A equipe fabricou diversas combinações de linguiça, com diferentes proporções de sal e salicórnia em pó.

Bom, fazer uma linguiça perfeita é quase uma arte. Para que o interior seja homogêneo, é preciso extrair proteínas da mistura de carne e gordura que vai dentro dela.

Algumas dessas proteínas são solúveis em água, e é por isso que muitas linguiças usam gelo picado em sua preparação. Mas outras proteínas só se diluem na presença de sal. O que significa que o sal é parte essencial na manutenção da textura da linguiça. E substituí-lo é mais complicado do que parece.

Depois que os pesquisadores coreanos desenvolveram suas linguiças, elas foram submetidas a uma bateria de testes químicos e físicos para ver como sua textura resistia à presença da salicórnia.

O veredicto? A planta consegue extrair algumas dessas proteínas solúveis em sal. E quanto mais salicórnia na mistura, mais proteínas eram diluídas.

Os pesquisadores reconhecem que ainda precisam de mais experiências.

E para apreciadores de linguiças, ficou faltando uma parte essencial no estudo: qual é o gosto dessa invenção? Como muitas das melhores linguiças tradicionais levam uma generosa dose de verduras, talvez a versão coreana não seja tão estranha assim.

Fonte: BBC Brasil

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Saxenda: novo medicamento é aprovado pela FDA para controle de peso corporal

A Food and Drug Administration (FDA), dos EUA, aprovou hoje o Saxenda (liraglutide injetável) como uma opção de tratamento para o controle crônico do peso corporal, associado a uma dieta reduzida em calorias e à prática de atividade física regular. A medicação foi aprovada para uso em adultos com um índice de massa corporal (IMC) de 30 ou superior (obesidade) ou adultos com IMC de 27 ou superior (acima do peso), que têm pelo menos uma condição relacionada, tal comohipertensão arterial, diabetes tipo 2, colesterol alto ou dislipidemia.

O índice de massa corporal (IMC), que mede a gordura corporal com base no peso e na altura do indivíduo, é utilizado para definir a obesidade e o excesso de peso em categorias.

Segundo James Smith, vice-diretor da Division of Metabolism and Endocrinology Products in FDA’s Center for Drug Evaluation and Research, o Saxenda, usado responsavelmente em combinação com um estilo de vida saudável, que inclui uma dieta de baixas calorias e exercícios físicos, oferece uma opção de tratamento adicional para o controle crônico de peso para as pessoas que são obesas ou estão acima do peso e têm pelo menos umacomorbidade relacionada ao aumento do peso corporal associada.

O GLP-1 (Glucagon-like peptide-1) é um hormônio produzido no intestino, na presença de alimentos. Entre outras funções, ele estimula a produção e a secreção do hormônio insulina pelo pâncreas. Nos pacientes diabéticos tipo 2, a atividade do GLP-1 é insatisfatória, o que reduz as taxas de insulina e aumenta os níveis deaçúcar no sangue - as duas principais características do diabetes. O Saxenda é um agonista do receptor GLP-1 e não deve ser utilizado em combinação com qualquer outro fármaco que pertença a esta mesma classe, incluindo o Victoza, usado para o tratamento da diabetes tipo 2. Saxenda e Victoza contêm o mesmo princípio ativo (liraglutide) em diferentes doses (3 mg e 1,8 mg; respectivamente). No entanto, Saxenda não é indicado para o tratamento de diabetes tipo 2, pois não foram estabelecidas a segurança e a eficácia de Saxenda para o tratamento de diabetes.

A segurança e eficácia do Saxenda foram avaliadas em três ensaios clínicos que incluíram aproximadamente 4.800 pacientes obesos e com excesso de peso com e sem condições significativas relacionadas ao aumento do peso corporal. Todos os pacientes receberam aconselhamento sobre modificações de estilo de vida que consistia em uma dieta de baixas calorias e a prática regular de atividade física.

Os resultados de um ensaio clínico que envolveu pacientes sem diabetes mostraram que os pacientes tiveram uma perda de peso média de 4,5% da linha de base em relação ao tratamento com placebo (pílula inativa) em um ano. Neste ensaio, 62% dos pacientes tratados com Saxenda perderam, pelo menos, 5% do seu peso corporal, em comparação com 34% dos pacientes tratados com placebo. Os resultados de outro ensaio clínico que envolveu pacientes com diabetes tipo 2 mostrou que os pacientes tiveram uma perda de peso média de 3,7% da linha de base em relação ao tratamento com placebo em um ano. Neste ensaio, 49% dos pacientes tratados com Saxenda perderam, pelo menos, 5% do seu peso corporal, em comparação com 16% dos pacientes tratados com placebo.

As pessoas que utilizam Saxenda devem ser avaliadas após 16 semanas, para determinar se o tratamento está funcionando. Se um paciente não perdeu pelo menos 4% de peso corporal apresentado no início do estudo, o Saxenda deve ser interrompido, uma vez que é pouco provável que o paciente consiga manter uma perda de peso clinicamente significativa com a manutenção do tratamento.

Saxenda tem na sua bula uma advertência informando que tem sido observado em estudos com roedores a presença de tumores da glândula tireoide (tumores de células-C da tireoide), mas que não se sabe se o Saxenda provoca tumores de células-C da tireoide, incluindo um tipo de câncer de tireoide chamado carcinoma medular da tireoide (CMT), em seres humanos. Saxenda não deve ser utilizado em pacientes com história pessoal ou familiar de CMT ou em pacientes com síndrome de neoplasia endócrina múltipla tipo 2 (uma doença em que os pacientes têm tumores em mais de uma glândula do corpo e que predispõe ao CMT).

Os efeitos secundários graves relatados em doentes tratados com Saxenda incluem pancreatite, doença davesícula biliar, insuficiência renal e pensamentos suicidas. Saxenda também pode aumentar a frequência cardíaca e deve ser interrompido em pacientes que apresentem um aumento sustentado na frequência cardíaca de repouso.

A FDA está exigindo os seguintes estudos pós-comercialização para o Saxenda:

  • Ensaios clínicos para avaliar a dose, segurança e eficácia em pacientes pediátricos.
  • Estudo para avaliar os potenciais efeitos sobre o crescimento, maturação sexual e desenvolvimento e função do sistema nervoso central em ratos imaturos.
  • Registro de caso de CMT, de pelo menos 15 anos de duração, para identificar qualquer aumento naincidência CMT relacionado ao Saxenda.
  • Avaliação do risco potencial de câncer de mama com o uso de Saxenda em ensaios clínicos em curso.

Além disso, a segurança cardiovascular da liraglutide está sendo investigada em estudos em curso.

O FDA aprovou Saxenda como uma estratégia Risk Evaluation and Mitigation Strategy (REMS), que consiste em um plano de comunicação para informar os profissionais de saúde sobre os riscos graves associados ao uso de Saxenda.

Saxenda é fabricado pela Novo Nordisk S/A, na Dinamarca, e é distribuído pela Novo Nordisk, em Nova Jersey.

Fonte: FDA News Release, de 23 de dezembro de 2014 - NEWS.MED.BR, 2015.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Cientistas americanos desenvolvem antibiótico 'revolucionário'

Há décadas não foram registradas grandes descobertas no que diz respeitos a antibióticos. Mas essa "seca" pode ter chegado ao fim com uma descoberta feita por cientistas americanos, que vem sendo considerada revolucionária.

Uma equipe de especialistas da Universidade Northeastern, em Boston, nos Estados Unidos, desenvolveu um medicamento capaz de combater diversas infecções bacterianas que são resistentes aos antibióticos atuais.

Chamado de teixobactin, o remédio foi testado em ratos de laboratório e pode levar de cinco a seis anos para que seja testado em humanos.

Tuberculose

Em um artigo publicado na revista científica Nature, os cientistas explicam que o teixobactin se provou efetivo contra bactérias que causam a tuberculose e outras 'superbactérias' resistentes à meticilina, mais conhecidas pela sigla em inglês MRSA.

Os cientistas também desenvolveram outros 24 antibióticos, que também foram considerados "promissores".

Nada de relevante foi descoberto no campo dos antibióticos desde 1987.

Segundo a equipe de Northeastern, liderada pelo cientista Kim Lewis, o método foi desenvolvido após uma análise de compostos de bactérias provenientes do solo. Eles foram, depois, cultivados em laboratório, em uma espécie de câmara colocada dentro da terra durante algumas semanas.

Fonte: BBC Brasil

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Remédio para incontinência urinária pode ajudar a emagrecer

Mirabegron, vendido nos Estados Unidos, estimula a gordura marrom a consumir mais glicose e a queimar mais calorias

Mirabegron: medicamento utilizado para tratar de bexiga hiperativa pode ajudar a emagrecerPesquisadores americanos descobriram que uma droga vendida nos Estados Unidos para tratamento de bexiga hiperativa, uma disfunção da incontinência urinária, pode ajudar a emagrecer. O medicamento mirabegron aumenta o metabolismo da gordura marrom, responsável por gerar calor no organismo. O estudo foi divulgado nesta terça-feira no periódicoCell Metabolism.

Ao contrário da gordura branca, que tem a função de estocar energia, a gordura marrom é responsável em gastar calorias para gerar calor e, assim, auxiliar o corpo a manter sua temperatura estável. Por fazer o organismo queimar mais calorias, o tecido adiposo marrom costuma ser associado ao emagrecimento.

Estudo — Participaram da pesquisa doze homens que tomaram 200 miligramas de mirabegron. Em todos os voluntários, o metabolismo da gordura marrom aumentou, elevando o gasto calórico em repouso em 203 calorias.

“O mirabegron estimula o tecido adiposo marrom a consumir mais glicose e a queimar mais calorias”, diz Aaron Cypess, coautor do estudo e pesquisador do Centro de Diabetes Joslin, afiliado à Faculdade de Medicina de Harvard, nos Estados Unidos.

De acordo com Cypess, até então o único jeito de ativar o funcionamento da gordura marrom era pela exposição ao frio. “Essa proposta apresentava resultados inexpressivos e variava muito de pessoa para pessoa”, afirma. Além disso, o efeito passava rapidamente depois que a condição de frio era removida.

Fonte: Veja

O estranho mundo vivo do interior de um queijo

Há muitos anos, o queijo nada mais era do que apenas um dos recursos para se prolongar a vida útil do leite. Hoje, é um dos alimentos mais apreciados do mundo e representa um território fértil para quem gosta de experiências gastronômicas, com versões como o stilton salpicado de ouro ou o casu marzu, povoado por larvas de mosca vivas e típico da ilha da Sardenha, na Itália.

Mas você não precisa ser um grande conhecedor para apreciar esses alimentos que são praticamente castelos de microrganismos. Cada um é uma casa construída por bactérias e fungos, e cada um tem seu estilo arquitetônico próprio, de acordo com o gosto de seus habitantes.

A acumulação de bactérias começa ao se misturar o leite com lactobacilos ou estreptococos para torná-lo ácido. Uma enzima adicionada "corta" a ponta das proteínas do leite. Sem essa ponta, as proteínas literalmente caem para fora do leite em aglomerados sólidos, agarrando-se a glóbulos de gordura pelo caminho.

Os fabricantes de queijo coam esses aglomerados, ou coalhos, e os espremem para preparar o queijo para a maturação. É nesse processo de maturação que outros micróbios começam a aplicar suas próprias características.

Veja o exemplo do roquefort, um queijo pontilhado por fendas azuladas. O "operário" aqui é o Penicillium roqueforti, um fungo que vive naturalmente nas cavernas francesas onde o autêntico queijo roquefort é maturado, apesar de fabricantes de todo o mundo poderem adicionar esse componente para criar um efeito semelhante.

Criaturas caprichosasO fungo 'Penicillium roqueforti'

O P. Roqueforti é uma criatura sensível. Ele gosta de ar, mas pode morrer se for exposto a muito oxigênio. Então os fabricantes espetam o queijo com varetas metálicas, fazendo buracos pequenos e protegidos onde os fungos ficarão em segurança para se multiplicar. Uma vez acomodados, eles segregam enzimas que quebram as gorduras do queijo em ácidos graxos, o que confere a ele o sabor ligeiramente saponificado, e em metilcetonas, que lhe garante o odor característico.

Esses fungos produzem toxinas que provocam danos ao coração, pulmões, fígado e rins quando dados a ratos de laboratório. Mas no habitat do queijo, essas substâncias são quebradas em formas nada nocivas.

Queijos curados moles, como o camembert, também abrigam fungos. OPenicillium camemberti é o principal habitante, instalando-se na superfície e produzindo enzimas que lançam uma reação em cadeia até o miolo do queijo. Ao digerir lactato, esses microrganismos tornam o queijo mais ácido na superfície do que no centro, o que leva os íons de fosfato de cálcio, antes bem abrigados na estrutura do queijo, a migrar para a superfície.

A mudança na acidez e a movimentação do íon faz o interior do queijo amolecer. Na superfície, uma nova digestão de proteínas produz amônia, que se difunde pelo queijo e dá ao camembert seu cheiro tão singular. Esse complexo leva-e-traz é complementado por uma variedade enorme de reações químicas.

Já os queijos de casca lavada, como o epoisses ou o limburger, que são banhados em salmoura várias vezes durante o processo de maturação, servem de abrigo para as bactérias do gênero Brevibacterium linens. Esse micróbio dá a esses alimentos o polêmico "cheiro de chulé", ao produzir moléculas como o ácido butanoico e o ácido isovalérico.

Não por acaso, essas mesmas bactérias vivem na nossa pele e são responsáveis pelo odor que sai dos nossos pés quando transpiramos. Mas, apesar do aroma, os queijos feitos com B. linens costumam ser altamente apreciados pelos iniciados.

Outras versões, como o cheddar, são produzidas por processos mais suaves de maturação. Esse tipo de queijo tende a envelhecer apenas com os lactobacilos que iniciam a fabricação, sem muita adição de novas colônias de microrganismos. Mas eles abrigam uma gama de combinações de moléculas de odores e sabores, tornando-o alimentos bastante complexos. O gosto de um cheddar pode ser ao mesmo tempo salgado, aveludado e ligeiramente doce.

A ciência dos sabores

Na realidade, falar de queijos é quase como falar de vinhos. Existe todo um vocabulário que só os profissionais conhecem.

Séculos de experiências práticas nos deram a incrível variedade de queijos que temos hoje em dia. A ciência ainda está separando cada família de micróbios responsáveis por isso, e tentando entender seus hábitos e seus talentos.

Normalmente, os pesquisadores começam com uma lista de moléculas em um determinado queijo e uma amostra de bactérias e estudam como estas podem produzir as primeiras.

Mas quanto mais aprendemos sobre esses detalhes, mais fascinantes os queijos se tornam.

Por isso, da próxima vez que você estiver fatiando um desses castelos construídos por microrganismos, lembre-se da contribuição deles.

Fonte: BBC BRASIL

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Anvisa aprova primeiro remédio via oral contra hepatite C

Pacientes brasileiros contam apenas com tratamentos injetáveis. Ministério da Saúde deve incorporar droga ao SUS

Hepatite: a doença é caracterizada por uma inflamação do fígado, que pode ser causada por infecções (virais, bactérias), pelo uso de álcool, de medicamentos e de drogas ou por doenças hereditárias ou autoimunes

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) vai anunciar nesta semana a aprovação do primeiro medicamento para hepatite C administrado via oral. Após a aprovação da agência, necessária para que o remédio possa ser comercializado no país, o Ministério da Saúde deverá incorporá-lo ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Já utilizado em outros países, o medicamento tem maiores porcentuais de cura e menos efeitos colaterais do que os atuais, que são injetáveis. O tempo de tratamento também é menor — três meses com o medicamento via oral, ante nove meses dos injetáveis.

Em outubro de 2014, o Ministério da Saúde já havia informado que pediu prioridade à Anvisa para a análise de três medicamentos via oral para a doença: sofosbuvir, daclatasvir e simeprevir. Apenas um deles deverá ter a aprovação anunciada nesta semana. Os demais terão a autorização emitida posteriormente.
A estimativa do Ministério da Saúde é de que, após aprovados pela Anvisa e incorporados ao SUS, os novos medicamentos beneficiem 60 000 pacientes da rede pública nos próximos dois anos.

A doençaO vírus da hepatite C pode ser transmitido por meio da transfusão de sangue, pelo compartilhamento de material para uso de drogas ou de higiene pessoal, como lâminas de barbear e depilar, além de alicates de unha e objetos usados em tatuagens, por exemplo. Estima-se que a doença afete entre 1,4% e 1,7% dos brasileiros, a maioria acima de 45 anos de idade.

Fonte: VEJA

domingo, 4 de janeiro de 2015

Invento permite que furadeira elétrica seja usada em cirurgias

A ideia de um médico usando uma furadeira convencional em uma cirurgia pode parecer absurda para muita gente.

Mas uma invenção engenhosa - uma capa protetora esterilizada - torna as ferramentas domésticas seguras para o uso em mesas de operação.

E o custo da capa é bem menor do que o de os instrumentos especiais usados em perfurações cirúrgicas.

Em países pobres, cirugiões muitas vezes não têm alternativas a usar furadeiras manuais para procedimentos em ossos.

Ao permitir o uso das furadeiras elétricas, a capa esterilizada ajudou cirurgiões a fazer operações mais rápidas e a operar mais pacientes.

Fonte: BBC Brasil

Conheça o lugar onde vinho é mais barato que água

Credito: Thinkstock

É fácil hoje em dia encontrar nas prateleiras de alguns dos maiores mercados da Austrália vinhos mais baratos do que água.

Você pode escolher entre uma garrafa de um pouco conhecido vinho tinto por apenas um dólar australiano (cerca de R$ 2,20) e um vinho branco muito popular que é vendido a 2,99 dólares australianos (cerca de R$ 6,50).

Isso, é claro, antes de avistar um galão de 4 litros por 17 dólares australianos (aproximadamente R$ 37).

Seja qual for sua escolha, ela proporcionalmente custará menos do que uma garrafa de água de 350ml - vendida normalmente a 2,50 dólares australianos (cerca de R$ 5,50).

"Vinhos estão mais baratos do que uma garrafa de água", confirmou à BBC o professor Kym Anderson, do Centro de Pesquisa Econômica de Vinho de Adelaide.

"E isso soa estranho, especialmente considerando que o preço inclui o imposto do atacado e do varejo", diz ele.

Como é possível?

Não é a primeira vez que esse tipo de cenário de preços é notícia na Austrália, mas hoje a situação é muito grave, de acordo com especialistas.

Credito: BBC

Os preços em todas as áreas têm sido afetados por diversos fatores interligados, incluindo as taxas de câmbio recentes, a queda da demanda internacional e excesso do produto no mercado doméstico.

O aumento do valor do dólar australiano em relação ao dos EUA entre o início de 2011 e 2013 teve dois impactos na indústria de vinho, disse Paul Evans, diretor-executivo da Federação de Produtores de Vinho da Austrália (WFA, na sigla em inglês).

"Grande parte do volume que exportamos voltou ao mercado interno quando caiu a demanda internacional por nosso vinho."

Neste cenário, a competição entre os produtores locais tem crescido, o que derruba mais os preços, explica Evans.

"Isso também é um incentivo para as importações e, assim, vimos crescer substancialmente as vendas de vinhos importados no mercado doméstico."

Impostos e preços

Outro fator que contribui para o baixo preço dos vinhos da Austrália é o imposto sobre o álcool. Isso varia por produto.

"Na Austrália há um sistema em que vinho e cidra têm diferentes impostos", diz Robin Room, pesquisador de álcool e diretor do Centro Turning Point de Álcool e Drogas, em Melbourne.

"Para bebidas está sendo cobrado um imposto com base no valor de venda do produto, em vez de pela quantidade de álcool que eles têm."

Portanto, isso significa que, se o vinho é vendido tão barato, o imposto é muito baixo também.

Credito: Getty

"Aqueles que fazem um produto caro pagam um imposto maior sobre ele", explica. E isso cria uma divisão dentro da própria indústria, completa ele.

Uma das funções de Room é ajudar a reduzir os problemas relacionados ao álcool na Austrália. Um aumento de impostos sobre o vinho poderia ajudar a reduzir alguns dos problemas de saúde relacionados ao álcool?

"Veríamos uma diminuição de problemas de saúde realmente sérios, bem como daqueles relacionados à ordem social e violência derivados da bebida", opina.

Em contrapartida, Room diz que houve um aumento constante de problemas de saúde associados ao álcool.

Por exemplo, "os pedidos por ambulâncias em Victoria dobraram nos últimos dez anos, e muitos episódios estão relacionados ao consumo de álcool, de acordo com números de departamentos de emergência", relata. "Também têm aumentado o número de internações por cirrose hepática."

No entanto, ele observa que algumas bebidas alcoólicas "sempre foram baratas" no país e, além de impostos, estabelecer um preço mínimo para esses produtos "pode ser importante na redução de problemas relacionados ao álcool".

O duopólio e os produtores de vinho

Outro fator que mantém acessível o preço dos vinhos é o duopólio de dois grandes supermercados, Woolworths e Coles.

As duas empresas controlam mais de 70% de todas as vendas de vinho no varejo.

A Federação de Produtores de Vinho elogia os investimentos feitos pelos supermercados na indústria, mas também aponta a necessidade de rever a situação.

"Há uma diferença considerável entre o poder dos varejistas do mercado e dos produtores de vinho, o que afeta negativamente a indústria como um todo", diz Evans, da Federação de Produtores de Vinho. "Isso se reflete na margem de lucro dos produtores de uva, que cai em cascata."

Outros dizem que o duopólio não é tão ruim e que as grandes redes estão ajudando os produtores em um momento difícil no mercado.

Um pequeno produtor de Canberra diz que alguns varejistas são realmente bons comerciantes.

"Eles estão definitivamente ajudando alguns produtores (a escoar) seu excesso de oferta", diz Fergus McGhie, da vinícola Mount Majura.

Segundo ele, há um debate para reduzir a produção de vinhos em 10% para conter esse excesso.

"E isso é em todas as regiões. Ouvimos que todo mundo precisa retirar 10% dos seus vinhos (de circulação) para trazer as coisas de volta ao equilíbrio. Mas ninguém quer fazer isso. E eu não vou. Só aqueles que não entendem o cenário reclamam do duopólio. Esses grandes varejistas só estão vendendo vinho e estão se saindo muito bem."

Consumidores

Em geral, os baixos preços dos vinhos australianos parece aceitável para alguns produtores e uma vitória para os consumidores, que procuram uma garrafa boa e acessível por menos de US$ 10.

E talvez seja uma vitória também para grandes varejistas, que são vistos como salvadores por alguns produtores que precisam reduzir o seu excesso de oferta.

Mas e no longo prazo?

A federação garante que a situação não é sustentável e que está trabalhando com o governo para corrigi-la.

"Atualmente estamos experimentando uma desvalorização do valor da marca que muitos enólogos australianos ajudaram a construir por muito tempo", diz Evans.

"Mas eu acho que o mais importante, no longo prazo, é acabar com o mito da relação entre a qualidade do vinho e o preço que se está pagando por ele. Dessa forma, vai ser muito difícil para os consumidores voltar a um sistema de preços que tenha mais relação com a qualidade do vinho que está sendo consumido."

Fonte: BBC Brasil

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Pesquisa diz que 'má sorte' é causa da maioria dos tipos de câncer

James Gallagher - Editor de Saúde da BBC NewsCélulas humanas (foto: Thinkstock)

A ocorrência da maior parte dos tipos de câncer pode ser atribuída mais à "má sorte" do que a fatores de risco conhecidos, como o hábito de fumar, segundo um estudo americano.

A pesquisa que chegou a essa conclusão tem o objetivo de explicar a razão de alguns tecidos do corpo serem mais vulneráveis ao câncer do que outros.

Os resultados, publicados no jornal científico Science, mostraram que dois terços de todos os tipos de câncer analisados são originados de forma aleatória por mutações genéticas, independentemente do estilo de vida levado pelo paciente.

Mas a organização Cancer Research UK afirmou que um estilo de vida saudável ainda aumenta muito as chances de uma pessoa não desenvolver a doença.

Nos Estados Unidos, 6,9% da população desenvolve câncer de pulmão, 0,6% tem câncer de cérebro e 0,00072% sofre de tumores na laringe em algum momento de suas vidas.

As toxinas do cigarro podem explicar por que o câncer de pulmão é mais comum.

Mas, apesar do sistema digestivo estar mais exposto a toxinas do ambiente do que o cérebro, os tumores cerebrais são três vezes mais comuns que os de intestino.

Raízes do câncer

O estudo foi conduzido por pesquisadores da Universidade Johns Hopkins e da Escola de Saúde Pública Bloomberg. Eles afirmaram acreditar que a explicação para esse fator aleatório está na maneira como os tecidos do corpo se regeneram.

Células velhas e desgastadas do corpo são constantemente substituídas por meio de células-tronco, que se dividem para formar novas células.

Mas em cada divisão há o risco de que ocorra uma mutação perigosa, que aumenta a chance da célula-tronco se tornar cancerígena.Cigarro (foto: Reuters)

O ritmo dessa renovação celular varia de acordo com a região do corpo, sendo mais rápida no intestino e mais lenta no cérebro, por exemplo.

Os pesquisadores compararam o número de vezes que essas células se dividem em 31 tecidos do corpo durante a vida de um indivíduo com o índice de incidência de câncer nessas partes do corpo.

Eles concluíram que dois terços dos tipos de câncer eram "causados pelo azar" de células-tronco em processo de divisão sofrerem mutações imprevisíveis.

Esses tipos de câncer incluem Glioblastoma (câncer de cérebro), cânceres no intestino delgado e no pâncreas.

Segundo Cristian Tomasetti, professor assistente de oncologia e um dos pesquisadores, as ações de prevenção não são suficientes para impedir a ocorrência desses tipos de câncer.

"Se dois terços da incidência de câncer nos tecidos é explicada por mutações de DNA aleatórias que ocorrem na divisão das células-tronco, mudar o estilo de vida e os hábitos é uma grande ajuda para prevenir certos tipos de câncer, mas não é efetivo em relação a uma grande variedade de outros tipos", afirmou.

"Temos que concentrar nossos esforços em encontrar maneiras de detectar esses cânceres mais cedo, em estágios em que ainda sejam curáveis".

Os tipos de câncer cuja incidência está relacionada ao estilo de vida ou a fatores genéticos herdados de familiares por um paciente incluem as variações mais comuns da doença:

  • Carcinoma de células basais – um tipo de câncer de pele provocado por exposição excessiva a raios ultravioleta
  • Câncer de pulmão – fortemente relacionado ao hábito de fumar
  • Câncer de cólon - risco elevado por uma dieta não balanceada e por herança genética

Uma pesquisa diferente conduzida pela organização não governamental Cancer Research UK diz que mais de quatro em cada dez casos de câncer são causados pelo estilo de vida levado pelo paciente.

"Estimamos que mais de quatro em cada dez casos poderiam ser prevenidos por mudanças no estilo de vida, como não fumar, manter um peso saudável, ter uma dieta saudável e reduzir o consumo de álcool", disse à BBC a médica Emma Smith, porta-voz da entidade.

"Fazer essas mudanças não é uma garantia contra o câncer, mas aumenta as chances a seu favor", disse.

"É vital que continuemos a fazer progressos em detectar o câncer mais cedo e melhorar os tratamentos, mas ajudar as pessoas a entender como elas podem reduzir o risco de desenvolver câncer continua sendo fundamental na luta contra a doença".

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015