segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

#SalaSocial: Redes sociais aproximam brasileiros adeptos do 'poliamor'

Ricardo Senra - Da BBC Brasil em São Paulo

"A monogamia é uma invenção social."

Se por muito tempo a opinião dos chamados poliamoristas foi compartilhada à boca pequena, em reuniões íntimas ou mesas discretas de fundo de bar, agora a banda toca diferente: com ajuda das redes sociais, o poliamor "saiu do armário".

Em grupos secretos ou fechados no Facebook, milhares de "trisais" ("casais" formados por três indivíduos), "quatrilhos" (quatro pessoas), grupos e curiosos defendem a possibilidade de múltiplos relacionamentos amorosos simultâneos, sempre com o consentimento de todos os envolvidos.

Nas redes, compartilham suas fotos, dúvidas e experiências. Discutem ciúme, fidelidade e regras para relacionamentos "poli". Detalham diferentes modelos de relações. Trocam dicas para a discussão do tema em família e tomam coragem para se assumirem publicamente.

Também, claro, aproveitam o espaço para flerte e para encontrar novos pares.

Famílias

"Sou casada no papel com Joviano há 12 anos. Conhecemos Daiane há sete. Há dois, moramos todos juntos. Dois filhos são biologicamente meus e dois são dela. No coração, eles são filhos dos três", conta a dona de casa Juliana Cabral, de 30 anos, ao #SalaSocial.

Ao lado de Daiane, Joviano e dos quatro filhos, ela diz viver uma experiência familar poliamorosa "bem-sucedida".

Os filhos hoje aceitam bem o modelo não-convencional. "Eles dizem para os amiguinhos que têm duas mães", conta, orgulhosa.

Mas nem sempre foi assim. "Foi difícil para o mais velho. Ele perguntou: 'você é sapatão, mãe?'. Eu disse que não. Contei que amo estas duas pessoas igualmente, independente de gênero. Aí ele começou a relaxar."

A dificuldade não residia só dentro da casa simples onde vivem, na cidade goiana de Aporé, cuja população não chega a quatro mil pessoas.

"Minha mãe deixou de falar comigo. Meu pai não toca no assunto. Às vezes, professoras nos chamam para entender como são as coisas. Tudo bem, vou e explico. Já aconteceu de uma delas, evangélica, proibir as crianças de tocarem no assunto. 'Era pecado'. Então, mudamos de escola."

'Amar é natural'

A principal das barreiras a se enfrentar, diz Juliana, era ela própria.

"Até descobrir o grupo, eu me sentia pessoa errada. Lá que descobri que amar é natural. Então procuramos ajuda psicológica e só confirmamos isso. Se dá para amar seis filhos, por que não amar seis maridos ou esposas? O que impede a gente? Aprendi a resposta: a sociedade."

O grupo a que Juliana se refere está no Facebook, chama-se Poliamor e reúne mais de 5 mil interessados. "A internet me ajudou muito, moço. No começo eu tinha vergonha de dizer que era casada com um homem e uma mulher. Vendo os depoimentos, vi muita gente como eu. E era gente feliz."

Com a ajuda dos desconhecidos da rede, vergonha se tornou orgulho.

"Ponho foto no Facebook. Faço declarações. Todo mundo sabe. Nos queremos bem, não fazemos mal a ninguém e precisamos ser respeitados. Poliamor não é suruba ou safadeza. Poliamor é amor."

Encontros

A principal dificuldade relatada nos grupos pelos novatos é identificar em qual categoria poliamorosa se encaixam.

Mais comum, o termo poligamia é rechaçado pela maioria dos poliamoristas. "A poligamia sempre foi associada aos haréns, a relações machistas entre homens e várias mulheres. Aqui os direitos são iguais e mulheres têm direito de ter quantos homens desejarem", explicam.

Famílias

"Sou casada no papel com Joviano há 12 anos. Conhecemos Daiane há sete. Há dois, moramos todos juntos. Dois filhos são biologicamente meus e dois são dela. No coração, eles são filhos dos três", conta a dona de casa Juliana Cabral, de 30 anos, ao #SalaSocial.

Ao lado de Daiane, Joviano e dos quatro filhos, ela diz viver uma experiência familar poliamorosa "bem-sucedida".

Os filhos hoje aceitam bem o modelo não-convencional. "Eles dizem para os amiguinhos que têm duas mães", conta, orgulhosa.

Mas nem sempre foi assim. "Foi difícil para o mais velho. Ele perguntou: 'você é sapatão, mãe?'. Eu disse que não. Contei que amo estas duas pessoas igualmente, independente de gênero. Aí ele começou a relaxar."

A dificuldade não residia só dentro da casa simples onde vivem, na cidade goiana de Aporé, cuja população não chega a quatro mil pessoas.

"Minha mãe deixou de falar comigo. Meu pai não toca no assunto. Às vezes, professoras nos chamam para entender como são as coisas. Tudo bem, vou e explico. Já aconteceu de uma delas, evangélica, proibir as crianças de tocarem no assunto. 'Era pecado'. Então, mudamos de escola."

'Amar é natural'

A principal das barreiras a se enfrentar, diz Juliana, era ela própria.

"Até descobrir o grupo, eu me sentia pessoa errada. Lá que descobri que amar é natural. Então procuramos ajuda psicológica e só confirmamos isso. Se dá para amar seis filhos, por que não amar seis maridos ou esposas? O que impede a gente? Aprendi a resposta: a sociedade."

O grupo a que Juliana se refere está no Facebook, chama-se Poliamor e reúne mais de 5 mil interessados. "A internet me ajudou muito, moço. No começo eu tinha vergonha de dizer que era casada com um homem e uma mulher. Vendo os depoimentos, vi muita gente como eu. E era gente feliz."

Com a ajuda dos desconhecidos da rede, vergonha se tornou orgulho.

"Ponho foto no Facebook. Faço declarações. Todo mundo sabe. Nos queremos bem, não fazemos mal a ninguém e precisamos ser respeitados. Poliamor não é suruba ou safadeza. Poliamor é amor."

Encontros

A principal dificuldade relatada nos grupos pelos novatos é identificar em qual categoria poliamorosa se encaixam.

Mais comum, o termo poligamia é rechaçado pela maioria dos poliamoristas. "A poligamia sempre foi associada aos haréns, a relações machistas entre homens e várias mulheres. Aqui os direitos são iguais e mulheres têm direito de ter quantos homens desejarem", explicam.

O cardápio é vasto, e inclui triângulos abertos (por exemplo, uma mulher casada com dois homens que não se relacionam entre si), triângulos fechados (trios em que todos os membros se relacionam) a grupos em que os quatro integrantes se relacionam.

Nuno*, Lucas* e Rômulo* formam um triângulo fechado. "Esse é meu marido e esse é meu namorado", diz o primeiro, apontando para a foto em que aparece abraçado a dois rapazes - um, com quem se casou no papel no ano passado e outro, com quem ambos se relacionam (e vivem juntos) há dois meses.

Ele conta que, uma vez juntos, precisaram conversar para definir as regras da relação para driblar o ciúme e possíveis frustrações.

"O 'contrato' padrão dos namoros e casamentos por aí é normativo: 'eu não traio e você não me trai'. Quando fugimos desse padrão, precisamos colocar parâmetros: Seremos só nós três? Podemos fazer com mais gente? Sempre todos juntos ou pode separado? Tem que avisar antes ou não tem?".

As regras, diga-se, ainda são obscuras na legislação.

Jurisprudência

A principal experiência de oficialização de relações poliafetivas no Brasil foi registrada em 2012, na cidade de Tupã, interior de São Paulo. Uma escritura pública de União Afetiva uniu oficialmente duas mulheres e um homem que viviam na mesma casa há três anos.

Em entrevista à BBC Brasil na época, a tabeliã Claudia do Nascimento Domingues, que lavrou a união, defendeu que nada na Constituição brasileira impedia mais de duas pessoas de viverem como família.

"O modelo descrito na lei é de duas pessoas. Mas em nenhum lugar está dizendo que é crime constituir uma família com mais de dois. E é com isso que eu trabalho, com a legalidade. Sendo assim o documento me pareceu bastante tranquilo. Trata-se de um contrato declaratório, não estou casando ninguém", afirmou Claudia na oportunidade.

Nuno*, o rapaz que vive com outros dois apresentado nesta reportagem, reclama:

"Estes documentos de cartório funcionam como uma declaração de sociedade. Aí tudo é gerenciado como se fosse uma empresa, para efeito de partilha de bens. Não é a mesma coisa (que uma relação reconhecida no papel)."

*Os nomes são fictícios a pedido dos entrevistados

Fonte: BBC Brasil

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