quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Humanos herdaram genes de doenças dos neandertais, diz estudo

Paul Rincon - BBC News

Esqueleto de homem neandertal | Foto: BBC

Genes responsáveis por doenças que afetam humanos atualmente foram herdados do cruzamento com neandertais, sugere um estudo divulgado na publicação científica Nature.

Esses cruzamentos teriam transmitido adiante genes variantes envolvidos no desenvolvimento da diabetes tipo 2, da doença de Crohn (inflamação no sistema digestivo) e, curiosamente, do tabagismo.

Estudos do genoma revelam que a nossa espécie (Homo sapiens) cruzou com neandertais após deixar a África em direção à Eurásia, cerca de 65 mil anos atrás.

No entanto, até então não estava claro que tipo de influência teve o DNA neandertal e se havia quaisquer implicações para a saúde humana.

Entre 2% e 4% do código genético de não-africanos atuais veio de neandertais.

Ao selecionar os genomas de 1.004 homens modernos, os cientistas envolvidos no estudo, Sriram Sankararaman e seus colegas da Escola de Medicina de Harvard (EUA), identificaram regiões que apresentavam versões neandertais de diferentes genes.

Uma surpresa foi descobrir que uma variante do gene associado à dificuldade em parar de fumar tem origem neandertal. Mas, obviamente, não há qualquer sugestão de que nossos primos evolutivos consumissem tabaco em suas cavernas.

Em vez disso, os pesquisadores argumentam, essa mutação genética pode ter mais de uma função, e o efeito moderno desse gene no ato de fumar pode ser um efeito entre vários.

Novas paragens

Os pesquisadores descobriram que o DNA neandertal não é distribuído uniformemente no genoma humano, mas é encontrado geralmente em regiões que afetam a pele e o cabelo.

Isso sugere que algumas variações de genes forneceram uma maneira rápida de os humanos modernos se adaptaram aos novos ambientes mais frios que encontraram ao migrarem para a Eurásia. Quando as populações se encontraram, os neandertais já vinham se adaptando a essas condições há centenas de milhares de anos.

A espécie de fortes caçadores se espalhava por uma área que ia da Grã-Bretanha à Sibéria, mas foi extinta há cerca de 30 mil anos, enquanto o Homo sapiens se expandia para além de seu berço africano.

A linhagem neandertal permaneceu nos humanos modernos e foi encontrada, por exemplo, em regiões do genoma ligadas à regulação da pigmentação da pele.

"Encontramos provas de que os genes neandertais da pele fizeram com que europeus e asiáticos do leste se adaptassem melhor à evolução", disse Benjamin Vernot, da Universidade de Washington, coautor de outro estudo sobre o tema publicado na revista Science.

Vernot e sua equipe analisaram o genoma de mais de 600 pessoas da Europa e do leste da Ásia pelo computador, para encontrar variantes de genes que continham marcas neandertais.

Genes responsáveis pelos filamentos de queratina - uma proteína fibrosa que confere resistência a cabelos, pele e unhas - também foram enriquecidos com o DNA neandertal. Isso pode ter ajudado os novos humanos a terem um isolamento maior contra o frio, segundo os cientistas.

"É tentador pensar que os neandertais já estavam adaptados ao ambiente não-africano e deixaram este benefício genético aos humanos (modernos)", disse o professor David Reich, coautor do estudo publicado na Nature.

Mas outros de seus genes variantes influenciaram algumas doenças humanas, como a diabetes tipo 2, a depressão de longo prazo, o lúpus, a cirrose biliar - doença autoimune do fígado - e a doença de Crohn. No caso desta última, os neandertais passaram adiante diferentes marcados que aumentam ou diminuem o risco da doença.

No entanto, Sriram Sankararaman afirmou que os cientistas ainda não conhecem o suficiente da genética neandertal para afirmar se eles também sofreram destas doenças, ou se as mutações em questão só afetaram o risco das doenças quando transplantadas para o contexto genético do homem moderno.

Ele diz que mais pesquisas sobre o genoma da espécie podem oferecer mais respostas à questão.

"Misturas aconteceram há relativamente pouco tempo em termos evolutivos, então não esperávamos que o DNA neandertal tivesse desaparecido completamente a esta altura", disse Joshua Akey, da Universidade de Washington e coautor do estudo publicado na Science.

"Acho que o que estamos vendo, de maneira mais ampla, são os restos mortais deste genoma extinto, enquanto ele é lentamente expurgado da população humana."

Regiões desérticas

Os cientistas também descobriram que algumas regiões do nosso genoma são desprovidas de DNA neandertal, sugerindo que alguns dos genes tinham um efeito tão prejudicial nos filhos dos casais de humanos modernos e neandertais que eles foram descartados rapidamente pela seleção natural.

"Vemos que há grandes regiões do genoma onde a maioria dos humanos modernos têm pouca ou nenhuma linhagem neandertal", disse Sankararaman à BBC.

"Esta redução na linhagem aconteceu provavelmente pela seleção contra os genes que eram ruins ou deletérios para nós."

As regiões privadas dos genes neandertais englobam genes que se expressam em exames específicos e também o cromossomo X, ligado ao sexo feminino.

Isso sugere que alguns híbridos de neandertais e humanos modernos tinham fertilidade reduzida e, em alguns casos, eram estéreis.

"Isto nos diz que, quando neandertais e humanos modernos se encontraram e se misturaram, eles estavam à beira da compatibilidade biológica", afirmou o David Reich.

Para Joshua Akey, os resultados de sua equipe foram compatíveis com a ideia de que houve múltiplas ondas de cruzamentos entre humanos modernos e neandertais.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Por que os mercados voltam a temer os países emergentes?

Paula Adamo Idoeta – da BBC Brasil

Bolsa de Tóquio, nesta quarta-feira (Reuters)

Antes considerados um dos motores do crescimento mundial, os países emergentes deram sinais de instabilidade econômica nas últimas semanas. Brasil, Turquia, África do Sul e Índia tiveram de elevar suas taxas de juros enquanto a Argentina viu sua moeda sofrer uma forte desvalorização perante o dólar.

Por trás da turbulência estão tanto problemas internos desses emergentes como uma mudança na conjuntura internacional - sobretudo nos Estados Unidos.

Nesta quarta-feira, o Fed (banco central americano) anunciou mais uma redução em seus estímulos financeiros: vai cortar sua compra mensal de títulos do patamar atual, de US$ 75 bilhões, para US$ 65 bilhões. O motivo é o fortalecimento da economia americana, que tem precisado de menos estímulos para voltar a crescer.

Mas, na prática, isso tem impacto significativo nos países emergentes: de um lado, há menos dinheiro sendo injetado no mercado; de outro, o fortalecimento americano provoca fuga de capitais de economias menos desenvolvidas, já que o investidor ruma aos EUA em busca de mais segurança.

No Brasil, o dólar chegou nesta quarta a R$ 2,435, uma das maiores altas dos últimos anos; outras moedas estrangeiras também perderam valor perante o dólar.

Mas qual a origem dessa instabilidade? Ela pode levar a uma crise maior, como a que derrubou economias emergentes no final da década de 1990? Veja o que dizem especialistas consultados pela BBC Brasil:

Por que os mercados emergentes estão sofrendo?

Depois de terem atraído investidores no pós-crise de 2008, quando países desenvolvidos se tornaram pouco atraentes, os países emergentes já não são o destino favorito do dinheiro que circula no mercado financeiro.

De um lado, os EUA estão se recuperando, diminuindo seus estímulos financeiros e abrindo caminho para elevar suas taxas de juros - elementos que atraem os investidores, em busca de um porto seguro para seus investimentos.

"Isso leva a uma fuga de capitais, que por sua vez afeta o câmbio (desvalorizando as moedas perante o dólar) e gera um processo inflacionário (encarecendo produtos importados)", diz André Pereira Perfeito, economista-chefe do Gradual Investimentos.

A reação dos bancos centrais é aumentar as taxas de juros, para atrair investidores oferecendo uma rentabilidade mais alta. Mas é o efeito colateral o que esfria a economia - fica mais caro pegar dinheiro emprestado para abrir um negócio, por exemplo.

De outro lado, a China já não cresce na mesma velocidade, diminuindo suas compras de commodities de economias emergentes como Brasil e Argentina.

"Esse esfriamento desequilibra as balanças comerciais e o país perde a capacidade (de reter) moeda estrangeira", explica Otto Nogami, professor de economia do Insper.

Fora isso, persistem os problemas internos desses países, de infraestrutura à falta de confiança na habilidade de governos em administrar economia, que acabam perdendo a atratividade perante os olhos de investidores externos.

Os emergentes enfrentam problemas semelhantes?

O Brasil é apontado pelos especialistas como muito mais sólido do que outras economias emergentes, apesar de seus problemas conjunturais.

"Ao contrário da Argentina, que não tem conseguido gerar investimentos, o Brasil avançou no varejo, na construção civil, nos setores automotivo de de infraestrutura", opina André Perfeito, agregando que as reservas internacionais brasileiras são bem mais robustas - ou seja, o país tem mais capacidade de se manter solvente.

Segundo o economista, as reservas atuais brasileiras seriam suficientes para bancar, sozinhas, um ano e meio de importações (as da Argentina, por exemplo, durariam pouco mais de quatro meses).

Além disso, diz ele, a elevação de juros tem ocorrido de forma bem mais controlada - ao contrário da Turquia, que dobrou sua taxa de juros na última terça-feira, de 4,5% para 10%, um "ato de desespero" para evitar uma fuga maior de capitais, na visão do analista.

"O conjunto de emergentes é muito heterogêneo, e a situação dos países deve ser vista caso a caso", agrega Perfeito.

Na terça-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que a instabilidade atual é parte de um momento de acomodação da economia mundial.

Existe o risco de uma crise maior?

As turbulências despertaram especulações quanto a um possível contágio financeiro semelhante ao que derrubou, em efeito dominó, as economias emergentes no final da década de 1990.

Para Nogami, do Insper, esse risco existe se os países não tomarem medidas para evitar um ciclo de recessão (em que a alta de juros freie a economia e a inflação tire o poder de compra das pessoas).

"Para reverter o ciclo, os governos precisam equilibrar seus gastos, controlar a inflação e resgatar sua credibilidade para atrair investimentos", diz. No entanto, para Samy Dana, professor da FGV-SP, o cenário mudou muito desde os anos 1990: "Nossas reservas internacionais estão muito maiores do que eram", explica. Ou seja, temos um "colchão" maior para conter uma eventual crise.

O mesmo vale para outros países emergentes, cujas dívidas em dólar também não são tão grandes.

Além disso, no caso do Brasil, a moeda local está muito mais consolidada (nos anos 1990, o real era uma moeda nova e recém-estabilizada), explica Perfeito.

"Não acho que o cenário seja tão ruim o quanto estão pintando", diz o economista. "Até porque não vale a pena para os EUA manterem sua moeda tão valorizada (perante moedas emergentes) num momento em que tenta se recuperar economicamente."

A Argentina, porém, vive situação muito mais frágil, com baixas reservas internacionais, uma economia bem menos diversificada que a do Brasil e sinais de esgotamento do modelo adotado pelo governo Kirchner.

O diretor do departamento Monetário e de Mercado de Capitais do FMI, José Viñals, declarou à imprensa nesta sexta-feira que "a situação não é de pânico" e que a turbulência nos emergentes ocorre porque os emergentes "ainda não se ajustaram a condições externas mais voláteis".

Mascar chicletes pode influenciar na frequência e na gravidade da dor de cabeça em crianças e adolescentes, publicado pelo Pediatric Neurology

O hábito de mascar chicletes em excesso é pouco citado como um precipitante da dor de cabeça em crianças e adolescentes. Em estudo publicado pelo Pediatric Neurology foi avaliada a influência da mastigação excessiva diária de goma de mascar em crianças mais velhas e adolescentes com dor de cabeça crônica, ressaltando o impacto da descontinuação do hábito e da sua reintrodução.

A pesquisa foi liderada por Nathan Watemberg, médico do Child Neurology Unit and Child Development Center, do Meir Medical Center e da Tel Aviv University, em Israel. Pacientes com dor de cabeça crônica e que têm o hábito de mascar chicletes em excesso foram convidados a preencher questionário referente às características da dor de cabeça, possíveis gatilhos, história familiar de dores de cabeça e características de uso das gomas de mascar. Estes indivíduos foram classificados em quatro grupos em função do número de horas diárias que mascavam chicletes. Todos os participantes descontinuaram o hábito de mascar chicletes durante um mês e o reintroduziram após este período. Foi realizada nova entrevista após 2 a 4 semanas.

Os resultados mostraram que dos trinta pacientes (25 meninas) recrutados, a idade média foi de 16 anos e a maioria tinha dor de cabeça do tipo enxaqueca (60% apresentavam enxaqueca e 40% apresentavam cefaleiatensional). Após a descontinuação de uso do chiclete, 26 relataram uma melhora significativa, incluindo a resolução da dor de cabeça em 19 deles. Vinte pacientes dos 26 que relataram melhora dos sintomasinicialmente e que reinstituíram o hábito relataram recaída dos sintomas em poucos dias, cerca de uma semana. A duração da dor de cabeça antes da interrupção e o número de horas diárias mascando chicletes não tiveram influência sobre a resposta na descontinuação. Os pesquisadores acreditam que o hábito de mascar chiclete em excesso possa desencadear a dor de cabeça, não pela ingestão de aspartame, contido na goma de mascar, como já foi sugerido anteriormente, mas por colocar a articulação temporomandibular em um esforço excessivo.

Embora o estudo seja pequeno e avaliações futuras devam ser feitas, no presente trabalho verificou-se que o excesso de chiclete por dia pode estar associado à dor de cabeça crônica e deve receber mais atenção na literatura médica. A conscientização do paciente e do médico sobre esta associação pode ter um impacto significativo sobre a qualidade de vida de crianças e adolescentes com dor de cabeça crônica que mascam chiclete excessivamente. Os estudiosos ainda sugerem que se o exame neurológico das crianças e adolescentes estiver normal e o hábito de mascar chiclete em excesso estiver presente, os médicos devem sugerir a descontinuação do uso antes de solicitarem procedimentos diagnósticos e terapêuticos caros para avaliar e tratar as dores de cabeça nesta faixa etária.

Fonte: Pediatric Neurology, volume 50, de janeiro de 2014 – NEWS.MED.BR, 2014.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Bom colesterol 'pode se tornar ruim e entupir artérias', diz pesquisa

James Gallagher - BBC News

Um estudo liderado por médicos americanos mostrou que o chamado bom colesterol também tem um lado perigoso, podendo aumentar o risco de ataques cardíacos.

A lipoproteína de alta densidade (HDL na sigla em inglês), ou colesterol bom, normalmente ajuda a manter as artérias limpas e faz bem para a saúde do coração.

Mas um time de médicos do centro médico acadêmico Cleveland Clinic, no estado de Ohio, mostrou que o HDL pode se tornar anormal e entupir as artérias.

Eles dizem que as pessoas devem continuar a comer de forma saudável, mas que a história do "bom" colesterol é mais complexa do que se pensava.

A lipoproteína de baixa densidade (LDL na sigla em inglês) é "ruim" porque é depositada nas paredes das artérias e causa a formação de placas duras que podem causar entupimentos, resultando em acidentes cárdeo vasculares (AVC) e infartos.

No caso do HDL, ele é um colesterol "bom" porque é enviado para o fígado.

A evidência hoje é de que ter uma proporção maior do bom colesterol em relação ao ruim faz bem à saúde.

No entanto, os pesquisadores da Cleveland Clinic dizem que testes clínicos com o objetivo de aumentar os níveis de HDL "não tiveram sucesso" e que o papel do bom colesterol é claramente mais complicado.

'A exata mudança química'

No estudo, divulgado na publicação científica Nature Medicine, eles mostraram como a lipoproteína de alta densidade pode se tornar anormal.

Um dos pesquisadores, Stanley Hazen, disse que o HDL estava sendo modificado nas paredes das artérias.

"Nas paredes das artérias o HDL está agindo de forma bastante diferente de como age na circulação. Pode se tornar disfuncional e contribuir para o desenvolvimento de doenças do coração."

"Estes dados não mudam a ideia de que devemos comer de forma saudável", explicou Hazen.

Ele disse que as descobertas serão usadas para desenvolver novos testes para o HDL anormal, e pesquisar medicamentos que ajudem a bloquear sua formação.

Shannon Amoils, um pesquisador da organização de caridade britânica voltada para problemas cardíacos, a British Heart Foundation, disse que "embora tradicionalmente pensemos no HDL como colesterol 'bom', a realidade é muito mais complexa."

"Nós hoje sabemos que diante de certas condições, o HDL pode se tornar disfuncional e pode ajudar a entupir artérias."

"Esta interessante pesquisa mostra a exata mudança química que torna o "bom" colesterol em "ruim".

"Esse conhecimento pode permitir que cientistas monitorem a doença arterial coronária mais de perto ou até mesmo ataquem o colesterol "ruim" com medicamentos."

Dieta rica em gordura durante gravidez pode afetar cérebro de bebê, diz estudo

James Gallagher -BBC News

Mulher grávida | Crédito: PAA ingestão frequente de gordura durante a gravidez pode alterar o cérebro do bebê em desenvolvimento, revelou um estudo feito por cientistas americanos.

A pesquisa também sugere que essa dieta poderia aumentar a chance de obesidade do filho na vida adulta.

Os testes foram realizados em ratos e mostraram uma alteração na estrutura do cérebro desses animais quando houve ingestão em excesso de gordura durante a gravidez.

Segundo os cientistas, da Escola de Medicina da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, onde o estudo foi conduzido, essa pode ser uma das explicações para o fato de filhos de pais obesos terem maior propensão a se tornar adultos acima do peso.

Especialistas lembram, no entanto, que as mesmas mudanças no cérebro humano ainda não foram cientificamente comprovadas.

Hábitos alimentares compartilhados por toda a família são um fator importante em relação à obesidade, acrescentam eles.

Entretanto, há evidências de que uma dieta rica em gorduras durante a gravidez pode, de fato, moldar a silhueta da criança no futuro, assim como alterações no DNA.

Alteração no cérebro

O experimento feito em ratos mostrou que mães que tiveram uma dieta rica em gordura durante a gravidez deram à luz filhotes com alteração no hipotálamo – parte importante no cérebro para a regulação do metabolismo.

Esses filhotes tinham maior probabilidade de se tornarem obesos e desenvolver Diabetes Tipo 2 em relação a outros cujas mães receberam uma dieta normal.

"Para o filhote, isso pode ser um sinal de que ele pode crescer muito, pois o ambiente está rico em comida", explicou à BBC Tamas Horvath, pesquisador e professor de Yale.

"Nós, definitivamente, acreditamos que tais processos são fundamentais para entender o que acontece com seres humanos e porque certas crianças têm grandes chances de se tornarem obesas. Precisamos pesquisar mais a fundo, pois esses estudos podem ter forte impacto tanto em animais quanto em serem humanos", acrescentou Horvath.

Segundo ele, uma alimentação saudável durante a gravidez pode ajudar a quebrar o ciclo de que pais obesos vão, incondicionalmente, gerar filhos obesos.

'Circuitos neurológicos'

"Pesquisas de 20 anos mostram que a alimentação no início da vida tem efeitos duradouros sobre doenças cardiovasculares, osteoporose e alguns tipos de câncer", explicou Graham Burdge, professor da Universidade de Southampton.

"Trata-se de um avanço importante, pois mostra circuitos neurológicos sendo alterados. Essa característica não foi vista antes", acrescentou Burdge.

Ele ressalva, no entanto, que há diferenças fundamentais na forma como ratos e humanos processam a gordura no organismo. Por isso, o mesmo pode não acontecer com mulheres grávidas.

"Muito do que sabemos vem de pesquisas em animais. O próximo grande passo é saber se os mesmos mecanismos ocorrem de igual forma em humanos e como podemos mudar isso".

sábado, 25 de janeiro de 2014

A história do vinho rosé

Por Sommelier Wine Lucas Cordeiro

Talvez por simplesmente não ser branco e nem tinto, o vinho rosé vem ao longo da história sofrendo um preconceito que não lhe permitiu estar frequentemente nas mesas dos apreciadores dessa bebida. Porém, nem sempre foi assim.

Na década de 50, não faz muito tempo, o escritor inglês P. Morton Shand, em seu livro A Book ok French Wines, relata o quanto os rosés eram populares entre os franceses, fato que observou quando lá esteve no outono de 1957. Contudo, esse prestígio perdeu-se de lá para cá.

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O curioso é que, possivelmente, a cor rosada dos vinhos remonte a origem da bebida. Há quem defenda que, por pura falta de tecnologia, o vinho nos seus primórdios era rosado, muito doce e pouco alcoólico.

Hoje, é razoável imaginar que o máximo de popularidade que esse estilo de vinho conquistou ao redor do mundo se deva a dois fatores principais: à região francesa da Provence e ao rótulo português Mateus Rosé.

O primeiro fator, a Provence, na França, tem o apelido de “pátria do rosé”. Terra de paisagens encantadoras, suas características são únicas em todo o mundo. De todo vinho lá produzido, 87% é rosé e esse volume corresponde também a 40% dos exemplares dessa cor originados naquele país.

O segundo fator é um admirável sucesso de marketing. Nascido à época da segunda guerra mundial, em 1942, o Mateus Rosé encantou consumidores na Inglaterra e nos EUA, daí ganhou o mundo. Seu sucesso teve como base as características que o faziam único: levemente frisante e adocicado, refrescante, com uma garrafa diferenciada e uma sedutora cor rosada.

Pegando carona no seu êxito, somaram-se vários outros exemplares semelhantes lançados em Portugal, que, no século passado, representaram 55% das exportações de vinhos do país. Atualmente, encontramos uma oferta variada de garrafas recheadas com vinhos de cor rosada. Dos secos, leves e claros, aos mais escuros e encorpados, passando por rótulos ainda levemente doces.

Mas, geralmente, uma característica é comum a todos eles: são altamente refrescantes e digestivos, o que os torna excelentes para serem consumidos nas estações mais quentes, e na companhia dos mais variados pratos. Seguem algumas indicações para colorir a sua taça com a cor rosa neste verão!

Calyptra Vivendo Reserva Rosé 2010 - Esse rosé demonstra a qualidade do trabalho da vinícola Calyptra em sintonia com o terroir, resultando num vinho com elegância e frescor. Muito aromático, é perfeito para acompanhar frutos do mar, quiches, sanduíches ou ser servido como aperitivo.

Muga Rosado 2012 - Bodegas Muga reúne tradição e modernidade no melhor estilo de Rioja, produzindo vinhos de personalidade que refletem seu terroir. Fresco, frutado, com final persistente e muito agradável, esse exemplar é considerado um dos melhores rosés da Espanha.

E. Guigal Tavel Rosé 2011 - Fundado em 1946 o Domaine Etienne Guigal é considerado o melhor produtor de Côtes du Rhône, seus vinhos são austeros e de aroma exuberante. Esse rosé possui corpo médio, bom frescor e final agradável. Pode ser apreciado como aperitivo ou com pratos leves.

Tratamento com onda magnética 'pode aliviar enxaqueca'

Michelle Roberts -BBC News

Enxaqueca (BBC/Arquivo)

Um aparelho que gera campos magnéticos e vem sido usado em tratamentos para depressão e esquizofrenia pode ajudar a aliviar os sintomas da enxaqueca, segundo autoridades médicas britânicas.

O Instituto Nacional Britânico para Excelência Clínica e de Saúde (NICE, na sigla em inglês) divulgou uma orientação recomendando o uso de estimulação magnética transcraniana para pacientes de enxaqueca. A tratamento é não invasivo; o aparelho portátil é colocado sobre o couro cabeludo e gera campos magnéticos indolores.

A organização voltada para saúde pública diz que o procedimento ainda é relativamente novo e reconhece ser necessário levantar mais dados a respeito de sua eficácia e segurança no longo prazo.

Em um teste feito com 164 pacientes, a estimulação funcionou duas vezes mais do que uma terapia com placebo e cerca de 40% dos voluntários já não sentia dores depois de usar o dispositivo.

Mas, segundo o NICE, a terapia, em que uma bobina gera campos magnéticos que ativam ou inibem neurônios, pode ser útil para pacientes que já tentaram outros tratamentos e não conseguiram alívio.

Segundo estatísticas, a enxaqueca é uma doença comum na Grã-Bretanha, afetando uma em cada quatro mulheres e um em cada 12 homens. No Brasil, estudos de 2009 apontam a incidência de enxaqueca em cerca de 15% da população.

Existem muitos tipos de enxaqueca, com ou sem aura e com ou sem dor. Também existem várias opções de tratamentos, incluindo a administração de analgésicos comuns como o paracetamol.

Peter Goadbsby, presidente da Associação Britânica para o Estudo da Dor de Cabeça, disse que muitos pacientes que sofrem do problema podem se beneficiar da estimulação magnética transcraniana.

A chefe da organização de caridade Fundação Enxaqueca da Grã-Bretanha, Wendy Thomas, também aprova a nova orientação do NICE.

"Muitos têm suas vidas afetadas pela enxaqueca. Aprovamos as orientações do NICE que possam ajudar a melhorar o futuro de muitas pessoas para as quais os outros tratamentos não funcionaram", afirmou. O NICE recomenda ainda terapias como acupuntura.

Ingestão de vitamina D não reduz riscos de doenças ou fraturas, diz estudo

BBC BrasilVitaminas | Crédito: Eyewire

Um estudo realizado por cientistas neo-zelandeses sugere que há pouca ou nenhuma razão para ingerir vitamina D como forma de reduzir o risco de doenças ou fraturas. A pesquisa foi publicada na revista científica Lancet.

Os cientistas analisaram 100 pacientes e descobriram que não houve diminuição significativa do risco em qualquer área do corpo humano com a ingestão da vitamina.

Mas eles acrescentaram que mais pesquisas são necessárias para comprovar as descobertas, e acrescentaram que grupos de risco, como bebês, mulheres grávidas e idosos, ainda devem ser aconselhados a tomar o medicamento.

A equipe responsável pela pesquisa, da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, já havia anteriormente realizado uma metanálise que mostrou que os suplementos de vitamina D não tiveram efeito na densidade mineral dos ossos.

Na ocasião, eles fizeram uma análise minuciosa de testes clínicos aleatórios de ingestão de vitamina D, com ou sem cálcio.

Ao final, no entanto, eles descobriram que os suplementos de vitamina D não alteram significativamente o risco de enfarte ou outras doenças cardiovasculares, derrame cerebral, câncer e fraturas.

De acordo com cientistas, pacientes hospitalizados que ingeriram a substância apresentaram um risco de fratura dos quadris inferior a 15% - patamar considero baixo para justificar a ingestão da vitamina D.

A mesma pesquisa foi feita com pacientes saudáveis. Quando eles tomaram cálcio, também não apresentaram nenhum fortalecimento dos ossos.

O estudo afirmou que "não há certeza se a vitamina D com ou sem cálcio reduzem o risco de morte".

"De acordo com as nossas descobertas, há pouca ou nenhuma razão para prescrever suplementos de vitamina D para prevenir enfarte do miocárdio ou doença de coração isquêmica, AVC ou doenças vasculares cerebrais, câncer, ou fraturas, e tampouco reduzem o risco de morte em uma comunidade de indivíduos aleatória".

As fontes de vitamina D mais comuns são os óleos de fígado de peixes e alimentos derivados do leite, como manteiga e queijos gordurosos, além da exposição ao sol.

 

Cautela

Karl Michaelsson, do departamento de ciências cirúrgicas da Universidade de Uppsala na Suécia afirma entretanto, que ainda há um debate sobre os eventuais benefícios de saúde envolvendo a ingestão de suplementos em casos de deficiência de vitamina D.

"A impressão que muitas pessoas têm é que altas doses de vitamina D ajudam a melhorar a saúde", critica Michaelsson.

Para o pesquisador, enquanto não houver informações suficientes que justifiquem os benefícios, o melhor a fazer é manter cautela em relação à ingestão da substância.

Enquanto alguns especialistas em nutrição afirmam que a falta da vitamina é responsável por inúmeras doenças, como fraturas, câncer, doenças cardiovasculares, diabetes, outros dizem que a deficiência é, na verdade, o resultado – e não a causa - da deterioração da saúde de um indivíduo.

Para Colin Michie, consultor em pediatria e presidente do comitê de nutrição da Royal College of Paediatrics and Child Health, o estudo comprova que "a vitamina D pode até gerar benefícios, mas eles não são tão relevantes".

Ele, entretanto, recomenda cautela dos médicos, bem como dos pacientes.

"Os médicos não devem sair pedindo exames de sangue para detectar uma possível carência da vitamina no organismo dos pacientes", diz Michaelsson.

"Em vez disso, as pessoas saudáveis têm de comer mais peixe, prestar atenção à sua dieta e a seu estilo de vida", acrescenta o especialista.

Entre os que apresentam maior insuficiência de vitamina D, estão as crianças abaixo de cinco anos, mulheres grávidas e em fase de amamentação e idosos com mais de 65 anos, além das pessoas que têm pouca exposição ao sol.

Recentemente, estudos mostraram que indivíduos com a pele mais escura, tais como africanos, caribenhos e asiáticos naturais do Sudeste da Ásia, ou mesmo pessoas que usem roupas que cobrem todo o corpo, além daquelas com pele mais pálida, também se incluem no grupo de risco.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Comediantes têm 'altos níveis de traços psicóticos', diz pesquisa

BBC Brasil

Comediantes têm traços de personalidade ligados à psicose, assim como outras pessoas criativas - e essa pode ser uma da razão pela qual eles são tão divertidos, indica uma pesquisa realizada na Universidade de Oxford e publicada no British Journal of Psychiatry.

Foto: BBCSua pontuação foi alta na medição de características que, em casos extremos, são associadas a doenças mentais. E, surpreendentemente, apresentam altos níveis tanto de introversão quanto de extroversão.

Os pesquisadores explicam que os elementos criativos necessários para o humor são similares aos traços observados em pessoas com psicose.

A pesquisa envolveu 523 comediantes (404 homens e 119 mulheres) do Reino Unido, EUA e Austrália. Eles responderam um questionário online, criado para medir traços psicóticos em pessoas saudáveis.

Foram medidos quatro aspectos: 1) experiências incomuns (crença em telepatia e eventos paranormais); 2) desorganização cognitiva (distração e dificuldade em se concentrar); 3) anedonia introvertida (habilidade reduzida de sentir prazer físico e social); e 4) não-conformidade impulsiva (tendência a comportamentos impulsivos e antissociais).

O questionário também foi preenchido por 364 atores - outra profissão que envolve performance - como grupo de controle, e por outras 831 pessoas que trabalham em áreas não-criativas.

Os comediantes pontuaram significativamente mais do que o grupo geral, em todos os tipos de traços de personalidade psicótica. Apresentaram níveis particularmente altos tanto em traços de personalidade extrovertida e introvertida.

Os atores pontuaram mais que o grupo geral em três dos quatro tipos - mas não no aspecto introvertido.

Entreter

Os estudiosos acreditam que essa estrutura incomum de personalidade pode ajudar a explicar a habilidade dos comediantes em entreter.

"Os elementos criativos necessários para produzir humor são incrivelmente similares aos que caracterizam o estilo cognitivo de pessoas com psicose - a esquizofrenia e a bipolaridade", diz Gordon Claridge, professor do Departamento de Psicologia Experimental da Universidade de Oxford.

Ainda que a psicose esquizofrênica em si prejudique o senso de humor, em uma forma mais branda ela pode aumentar a habilidade da pessoa em associar coisas estranhas ou "pensar fora da caixa", prossegue Claridge.

E traços similares à bipolaridade pode ajudar pessoas a combinar ideias para formar conexões novas e engraçadas.

"Comediantes tendem a ser levemente introvertidos, que nem sempre querem socializar, e sua comédia é quase uma válvula de escape para isso", diz Claridge à BBC.

Para Paul Jenkins, presidente da entidade Rethink Mental Illness, as descobertas são interessantes, mas é preciso ficar atento para não reforçar o "estereótipo do gênio criativo louco".

"Doenças mentais como esquizofrenia podem afetar qualquer pessoa, seja ela criativa ou não. Nosso entendimento sobre doenças mentais ainda é deficiente, e precisamos de mais pesquisas nessa área".

5 curiosidades sobre vinho branco

Por Sommelière Wine - Natália Pieta

Dos leves aos encorpados, de paladar seco aos deliciosamente doces, os vinhos brancos mostram toda a sua versatilidade e popularidade nesta época do ano. Por isso, vale a pena saber um pouco mais sobre esses exemplares ideais para refrescar os dias de verão. Confira estas curiosidades!

Vinhos brancos

1) Produzido com uvas tintas?
Sim, também se produz vinho branco com uvas tintas. O pigmento está presente na casca da uva e o tempo em que o mosto permanece em contato com ela é que determina a intensidade da cor. No caso dos brancos não existe este contato. Um exemplo clássico são os espumantes produzidos com as tintas
pinot noir e pinot meunier.

2) A chardonnay é a uva branca mais famosa no mundo.
É a principal variedade da Bourgogne e tem papel fundamental na região de Champagne, na França. Seus vinhos geralmente são mais encorpados, podendo passar por estágio em barricas de carvalho. Seu sabor varia do mais delicado e mineral, em Chablis, na França, ao mais pronunciado na Califórnia, EUA.

3) Diversidade de estilos: secos, meio secos, doces e docíssimos.
Dependendo da uva e da região, as possibilidades entre os vinhos brancos são inúmeras, uma gama de opção para agradar os mais diversos paladares.

4) Alguns dos vinhos mais cobiçados do mundo são brancos.
A famosa vinícola francesa
Château d’Yquem, tem seus ricos, potentes e exuberantes sauternes entre os melhores vinhos doces do mundo. Os champagnes também são objeto de desejo de muitos apreciadores e vinícolas francesas como Louis Roederer e Krug se destacam com seus celebrados fermentados.

5) Algumas uvas brancas que você talvez não conheça:

- Furmint e Hárslevelu: utilizada na Hungria para a produção do nobre vinho doce Tokaji.

- Parellada , Macabeo e Xarel-lo: principais cepas utilizadas na produção do espumante espanhol, Cava.

- Loureiro: utilizada na produção dos vinhos verdes portugueses. Apesar do nome, são brancos, jovens, com bastante frescor e levemente frisante.

- Garganega: a italiana mais famosa do Vêneto.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Cientistas evitam cegueira graças a terapia genética

Pallab Ghosh - BBC News

Cirurgiões de Oxford, na Grã-Bretanha, usaram uma técnica de terapia genética para melhorar a visão de seis pacientes que, caso contrário, teriam ficado cegos.

O tratamento, que envolve inserir um gene dentro das células dos olhos, é responsável por restaurar as células que detectam luz.

Os médicos envolvidos acreditam que o tratamento pode, eventualmente, ser usado para tratar formas comuns de cegueira.

Robert MacLaren, o cirurgião que liderou a pesquisa, disse que ele estava "muito contente" com o resultado.

"Nós realmente não poderíamos pedir por resultado melhor", disse ele.

A BBC deu a notícia, exclusivamente, quando os testes clínicos começaram há dois anos. O primeiro paciente foi Jonathan Waytt, que na época tinha 63 anos.

Wyatt tem uma condição genética conhecida como choroideremia, que resulta na morte gradual das células que detectam luz localizadas no fundo do olho.

Visão melhorada

Wyatt ainda enxergava um pouco quando fez a cirurgia. Sua esperança era de que o procedimento evitaria que sua visão continuasse deteriorando e salvaria a pouca capacidade de enxergar que lhe restava.

Ele, assim como outro paciente que participou do teste clínico de MacLaren, descobriu que a cirurgia não apenas estabilizou, como também aperfeiçoou, sua visão. Os outros pacientes, que ainda viviam os primeiros estágios da cegueira, tiveram melhoras em sua capacidade de enxergar à noite.

Wyatt é agora capaz de ler três linhas a mais em um teste de visão.

"Eu me sentia na beira de um abismo", ele disse à BBC.

"Eu enxergava a escuridão. MacLaren bateu no meu ombro e disse 'venha por aqui, é possível enxergar novamente'."

Depois do tratamento, Wyatt passou a enxergar três linhas a mais em um teste de visão

A mulher de Wyatt, Diane, confirmou que a perspectiva de cegueira total o deixou muito deprimido.

"Ele agora está muito otimista", ela explicou.

"Ele está mais independente, ele consegue encontrar coisas que não conseguia antes, consegue sair sozinho, e deixou de ser um incômodo!"

Outro paciente que participou do tratamento, Wayne Thompson, disse que ele notou um resultado imediato depois da cirurgia.

Vendo estrelas

"Minha visão colorida melhorou. Árvores e flores parecem muito mais vivas, e eu consegui ver estrelas pela primeira vez desde que eu tinha 17 anos, quando a minha visão começou a deteriorar", ele disse à BBC.

Thompson disse que ele passou a vida conformado com o fato de que ficaria cego.

"Eu vivi os últimos 25 anos com a certeza de que eu vou ficar cego, e agora (depois da operação) existe a possibilidade de continuar enxergando", ele disse.

Quando Thompson foi diagnosticado pela primeira vez, disseram que não conseguiria ver sua filha, que agora tem nove anos, crescer.

"Eu agora espero conseguir ver meus netos crescerem", disse Thompson.

Se os pacientes continuarem a melhorar, o objetivo é oferecer o tratamento à pacientes mais jovens com choroideremia, para evitar que eles percam a visão.

A condição é relativamente rara: acredita-se que mil pessoas são afetadas na Grã-Bretanha.

Mas MacLaren acredita que o sucesso com os casos de choroideremia demonstra que a terapia genética pode ser usada para curar outras formas de cegueiras genéticas, incluindo a degeneração macular ligada a idade.

Essa condição causa cegueira em 300 mil pessoas na Grã-Bretanha, e causa a deterioração na visão de uma em quatro pessoas com mais de 75 anos.

"Os mecanismos da choroideremia, e o que estamos tentando fazer com o tratamento, seriam, provavelmente, aplicáveis a casos de cegueira mais comuns", explicou MacLaren.

"A choroideremia tem algumas similaridades com a degeneração macular, já que procuramos atingir as mesmas células. Nós ainda não sabemos quais os genes devemos atingir na degeneração macular, mas nós sabemos como fazer e como colocar os genes de volta."

Clara Aglen, do Royal National Institute of Blind People, também está, cautelosamente, otimista.

Ela disse à BBC: "No momento, a terapia está em estágio inicial, mas oferece esperança para pessoas com condições genéticas, como a degeneração macular e glaucoma."

"Enquanto esse processo avança, existe a esperança de que pode ser usado, e prover a cura, para causas comuns de cegueira."

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Reflexões sobre a suplementação de vitamina D e seus efeitos benefícios não esqueléticos

Ensaios clínicos randomizados em andamento estão avaliando se realmente a suplementação de vitamina D pode reduzir o risco para várias doenças não-esqueléticas. Estes estudos têm envolvido grande número de participantes e vão custar milhões de dólares. O estudo VITAL, por exemplo, vai contar com a participação de mais de 20.000 indivíduos e tem um fundo de financiamento de cerca de 22 milhões de dólares. Este grande esforço de pacientes, pesquisadores e financiadores é louvável, uma vez que é quase certo que será suficiente para responder a uma pergunta que tem mantido há muito tempo a comunidade médica em dúvida.

A vitamina D primeiramente se tornou um sucesso quando sua importância na saúdeóssea e na homeostase do cálcio foi comprovada há décadas. Desde então, as evidências epidemiológicas vêm apoiando o papel de proteção da vitamina D contra várias doenças não-esqueléticas, incluindo câncer, doenças cardiovasculares, doenças autoimunes e inflamatórias, demência e diabetes mellitus; ela também parece poder reduzir a mortalidade por todas as causas. Muitos desses estudos mostram uma forte associação entre a baixa concentração de vitamina D e doenças. No entanto, os resultados de pequenos ensaios randomizados e controlados recentes são quase unânimes em concluir que a suplementação de vitamina D oferece proteção contra poucas ou mesmo nenhuma dessas doenças.

A vitamina D é um hormônio esteroide com efeitos pleiotrópicos e em tecidos específicos, devido à grande expressão do receptor nuclear de vitamina D em diferentes tecidos e os muitos genes que são alvo de suas ações. No sistema esquelético, a vitamina D promove o desenvolvimento saudável e a remodelação do osso. Em outros tecidos, acredita-se que a vitamina D possa mediar efeitos potencialmente benéficos através de uma ampla variedade de mecanismos: algumas evidências sugerem que ela exerce uma atividade anticancerígena, limitando a hiperproliferação de certos tipos de células, que promove a saúde metabólica pela regulação do metabolismo lipídico nos adipócitos e que limita a autoimunidade pela supressão de respostas imunes inadequadas.

Em uma revisão sistemática na revista The Lancet Diabetes & Endocrinology, Philippe Autier e colegas discutiram um grande número de estudos observacionais sugerindo que altas concentrações séricas devitamina D podem ser protetoras. Por exemplo, os indivíduos com altas concentrações de vitamina D têm diminuído o risco de eventos cardiovasculares (até 58%), diabetes (até 38%), câncer colorretal (até 33%) e de todas as causas de mortalidade (até 29%). No entanto, eles também comparam estes resultados com os resultados de ensaios clínicos randomizados que revelam um quadro muito diferente: nenhuma redução de risco foi encontrada, mesmo em estudos envolvendo a suplementação adequada dos participantes com níveis baixos de vitamina D no início do estudo (menos de 50 nmol/L). Autier e colegas também fizeram uma nova meta-análise de 16 estudos que avaliaram os efeitos da suplementação de vitamina D nos níveis sanguíneos de hemoglobina glicosilada (HbA1c), um biomarcador utilizado principalmente para monitoramento de distúrbios do metabolismo da glicose. Embora o diabetes tipo 2 esteja associado a baixos níveis de vitaminaD, os resultados mostram que a suplementação de vitamina D não reduz os níveis sanguíneos de HbA1c . Assim, parece cada vez mais provável que o baixo nível de vitamina D não é uma causa, mas uma consequência de problemas de saúde.

Apesar das crescentes evidências indicando que é improvável que a vitamina D evite doenças não-esqueléticas, existe um forte apoio para a sua utilização a partir de muitos membros da comunidade de pesquisa, que é alimentado pela toxicidade relativamente baixa da vitamina D e pelas evidências de estudos observacionais prospectivos. Para aqueles que "acreditam", a falta de benefícios encontrada na maioria dos estudos concluídos até agora pode ser atribuída a questões como a suplementação inadequada, o teste em uma população com ausência de deficiência de vitamina D no início do estudo, a formulação incorreta davitamina ou acompanhamento insuficiente dos participantes. No entanto, a vitamina D pode não ser segura em todos os casos. A suplementação em doses elevadas pode causar danos em pessoas com concentrações de vitamina D já elevadas, particularmente naqueles com problemas hepáticos, renais ou vasculares. Esta é uma preocupação, dado o grande número de pessoas que tomam suplementos de vitamina D (mais de 50% dos adultos nos EUA fazem esta suplementação).

Fonte: The Lancet Diabetes & Endocrinology, volume 2, número 1, de janeiro de 2014 - NEWS.MED.BR, 2014.

Musculação reduz risco de diabetes em mulheres, diz estudo

Michelle Roberts – BBC Brasil

Mulher se exercitando (Getty)

Mulheres que fazem musculação reduzem o risco de desenvolverem diabetes, de acordo com um estudo feito por cientistas da Faculdade de Medicina de Harvard.

O estudo acompanhou cerca de 100 mil enfermeiras americanas por um período de oito anos.

Levantar pesos, fazer flexões ou exercícios similares de resistência muscular foram relacionados a um risco mais baixo de diabetes, concluíram os pesquisadores.

No que diz respeito especificamente à diabetes, os benefícios da musculação superaram os do exercício aeróbico.

Mulheres que fazem pelo menos 150 minutos por semana de exercícios aeróbicos e ao menos uma hora também por semana de musculação tiveram a redução mais significativa (no risco de diabetes), se comparada com mulheres sedentárias.

Elas reduziram em um terço as chances de desenvolverem diabetes 2.

Especialistas já sabiam que a prática exercícios aeróbicos regularmente – tais como corrida ou natação – ajuda na diminuição do risco de se desenvolver esse tipo de diabetes.

O estudo de Harvard sugere, no entanto, que musculação e exercícios de resistência sejam adicionados à rotina para garantir uma maior proteção.

Amortecedor

Os pesquisadores afirmaram que o estudo não é perfeito – entrevistaram apenas enfermeiras, em sua maioria de etnia caucasiana, e levaram em conta apenas os dados que as mulheres lhes passavam, sem poder checá-los.

No entanto, eles disseram que os resultados são compatíveis com outras pesquisas que analisaram esses quesitos em grupos de homens.

Eles acreditam que uma massa muscular mais desenvolvida funciona como um amortecedor contra diabetes.

Isso porque o diabetes do tipo 2 se desenvolve quando células que produzem insulina passam a funcionar mal ou quando a insulina produzida não age como deveria.

A insulina permite ao corpo usar o açúcar como energia e armazenar qualquer excesso nos músculos e no fígado.

Assim, o excesso de peso pode aumentar o risco de uma pessoa em desenvolver a doença.

De acordo com o instituto britânico Diabetes UK, se você está acima do peso, a cada quilo perdido, você, reduz o risco de ter esse tipo de diabetes em 15%.

"Apesar das limitações envolvidas, a pesquisa destaca a mensagem de que ter um estilo de vida saudável e ativo pode ajudar a reduzir o risco de se ter diabetes 2", disse o médico Richard Elliot, porta-voz do instituto.

"Temos certeza de que o melhor jeito de reduzir o risco desse tipo de diabetes é manter um peso saudável se alimentando de maneira saudável, com uma dieta balanceada e com atividade física regular. Agora no começo do ano, muita gente está em busca de maneiras de perder peso. Nossa recomendação é que encontrem uma atividade física que gostem, assim é mais fácil se manter motivado."

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Estudo vincula nascimento prematuro a bactérias

Helen Briggs Da BBC News

Mulher grávida (Foto: PA)

Uma das causas mais comuns de partos prematuros - a ruptura, cedo demais, da bolsa de fluido que envolve o bebê dentro do útero - pode estar associada à presença de certas bactérias, segundo um estudo americano.

A descoberta pode resultar em testes para identificar a presença de bactérias e tratamentos para mulheres sob risco de entrar em trabalho de parto prematuramente, informou a equipe responsável pelo trabalho.

Os pesquisadores trabalham com a hipótese de que as bactérias identificadas produziriam um afinamento das membranas que envolvem o bebê no útero, levando à sua ruptura.

E essa ruptura, que na linguagem popular é chamada de "estouro da bolsa d'água", responde por quase um terço de todos os partos prematuros.

O estudo, por pesquisadores da Duke University School of Medicine em Durham, no Estado americano da Carolina do Norte, foi publicado na revista científica PLoS One.

 

Tratamento

Normalmente, as membranas que compõem a bolsa que envolve o bebê, ou bolsa amniótica, se rompem no início do parto.

Se elas se partem cedo, antes do início das contrações, isso pode - embora nem sempre aconteça - levar a um parto prematuro.

A equipe americana encontrou grandes quantidades de bactérias no ponto onde as membranas se rompem.

Se for constatado que as bactérias são a causa - e não a consequência - da ruptura da membrana, talvez seja possível desenvolver-se novos tratamentos ou criar-se práticas de monitoramento de mulheres sob risco - os especialistas explicaram.

"Por exemplo, se acharmos que certas bactérias estão associadas à ruptura prematura das membranas, podemos fazer testes para identificar sua presença já no início da gravidez", disse Amy Murtha, autora do estudo.

"Talvez então possamos ser capazes de tratar as mulheres afetadas com antibióticos".

"Nosso estudo ainda está muito longe disso, mas nos dá oportunidades de explorar intervenções terapêuticas direcionadas, algo que nos falta na obstetrícia".

Os pesquisadores examinaram amostras de membranas retiradas de 48 mulheres que tinham acabado de parir, entre elas, mulheres que tinham sofrido rupturas prematuras da bolsa amniótica, mulheres que haviam tido partos prematuros por outras razões e também mulheres que haviam completado os nove meses de gestação.

Eles verificaram que havia bactérias presentes em todas as amostras, mas quanto mais bactérias presentes, mais finas as membranas, especialmente nas mulheres que tinham tido partos prematuros em decorrência da ruptura da bolsa d'água.

Comentando o estudo, o médico Patrick O'Brien, do Royal College of Obstetricians and Gynaecologists, disse que já se sabia há algum tempo que infecções bacterianas eram responsáveis por rupturas prematuras da bolsa amniótica em algumas mulheres.

"Agora, o que realmente precisamos é entender em detalhes o mecanismo pelo qual bactérias provocam a ruptura da bolsa".

Duncan Wilbur, porta-voz da ONG britânica de suporte para bebês prematuros Bliss, acrescentou: "Damos boas vindas a qualquer estudo que nos ajude a compreender melhor as causas de partos prematuros e a identificar as mulheres sob maior risco".

"As conclusões desse estudo são muito interessantes e mais pesquisas precisam ser feitas para encontrar tratamentos que ajudem a prevenir partos prematuros".

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Estudo sugere que café pode melhorar memória

BBC Brasil

Grãos de café (Arquivo/PA)

Um estudo americano sugere que o café, além de servir como estimulante, ajuda a melhorar a memória.

O estudo, publicado na revista especializada Nature Neuroscience, testou a memória de 160 pessoas durante 24 horas.

Os pesquisadores observaram que pessoas que tomaram comprimidos de cafeína tiveram um desempenho melhor em testes de memória do que as que ingeriram placebos.

O estudo, da Universidade Johns Hopkins, envolveu pessoas que não bebiam ou consumiam produtos com cafeína regularmente.

Os pesquisadores recolheram amostras de saliva dos voluntários para verificar os níveis de cafeína e os submeteram a um teste em que tiveram que olhar para uma série de imagens.

Cinco minutos depois, parte deles recebeu um comprimido de 200 miligramas de cafeína, o equivalente à cafeína presente em uma xícara grande de café segundo os pesquisadores, ou então um placebo.

Os cientistas então recolheram outra amostra de saliva 24 horas depois.

No dia seguinte, os dois grupos foram avaliados para ver a capacidade de reconhecer as imagens vistas no dia anterior. Os voluntários foram expostos a uma mistura de algumas das imagens vistas no primeiro dia com algumas imagens novas e também algumas imagens sutilmente diferentes.

Ser capaz de diferenciar entre os itens semelhantes, mas não idênticos, é chamado de padrão de separação e indica um nível mais profundo de retenção na memória.

Entre os voluntários que consumiram cafeína, o número de pessoas capazes de identificar corretamente imagens "semelhantes" era maior que o que repondia - de forma errada - que eram as mesmas imagens.

"Se tivéssemos usado uma tarefa padrão de reconhecimento pela memória, sem estes itens semelhantes e enganadores, não teríamos descoberto o efeito da cafeína", disse Michael Yassa, que liderou o estudo.

"Mas, estes itens exigem que o cérebro faça uma discriminação mais difícil, o que chamamos de padrão de separação, que parece ser o processo que é melhorado pela cafeína em nosso caso", acrescentou.

O período de apenas 24 horas pode parecer curto, mas não é este o caso para os estudos sobre a memória. A maior parte do esquecimento ocorre nas primeiras horas depois que a pessoa aprende algo.

 

Poucos efeitos

A equipe agora quer analisar o que acontece no hipocampo, o "centro de memória" do cérebro, para compreender o efeito da cafeína.

Apesar dos resultados promissores, Michael Yassa afirmou que as pessoas não devem beber muito café ou tomar comprimidos de cafeína.

"Tudo com moderação. Nosso estudo sugere que 200 miligramas de café beneficiam aqueles não ingerem cafeína regularmente", disse Yassa.

O cientista afirmou que pode haver um outro tipo de resposta o que "sugere que doses mais altas (de cafeína) podem não ser tão benéficas".

"Tenha em mente que, se você é um consumidor regular de cafeína, esta quantidade pode mudar", acrescentou.

"E, claro, é preciso lembrar dos riscos para a saúde. Cafeína pode ter efeitos colaterais como nervosismo e ansiedade em algumas pessoas. Os benefícios precisam ser medidos em comparação com os riscos."

Para Anders Sandberg, do Instituto Futuro da Humanidade da Universidade de Oxford, o estudo demonstrou que tomar cafeína logo depois de ver as imagens "melhora o reconhecimento delas 24 horas depois, dando apoio à ideia de que ajuda o cérebro a consolidar o aprendizado".

"Mas, não houve melhora direta na memória de reconhecimento graças à cafeína. Ao invés disso, o efeito foi uma pequena melhora na habilidade de distinguir entre as novas imagens que pareciam com as antigas das que eram realmente as antigas."

Para Sandberg, a cafeína pode ajudar uma pessoa a prestar mais atenção, mas a melhor forma de consolidar o aprendizado é dormir, o que pode ser um problema com o consumo de café.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Cientistas desenvolvem supercola para emendar 'corações rompidos'

Helen Briggs Da BBC News

Cientistas americanos desenvolveram uma supercola com o potencial de "remendar" problemas no coração durante uma cirurgia ou interromper hemorragias em campos de batalha.

Cirurgia (Arquivo/Getty)

O novo adesivo poderá até substituir as suturas e grampos em cirurgias do coração, vasculares ou do sistema digestivo.

A equipe já realizou testes em porcos que mostraram que supercola pode selar defeitos no coração em uma questão de segundos e ainda aguentar a pressão dentro do coração.

O produto poderá está disponível para o uso em humanos dentro de dois ou três anos, depois de mais testes.

Os médicos já usam um tipo de cola, um adesivo, em pacientes para fechar ferimentos, substituindo pontos e grampos.

Mas, até o momento, esta cola de uso médico ainda não era forte o bastante para aguentar as forças dentro das câmaras do coração ou dos grandes vasos sanguíneos.

A pesquisa foi divulgada na revista especializada Science Translational Medicine.

 

À prova d'água

A nova cola, desenvolvida pela Faculdade de Medicina de Harvard, pode garantir o fechamento de feridas ou aberturas cirúrgicas à prova d'água em poucos segundos com um raio de luz UV.

"Desenvolvemos uma cola cirúrgica que pode ser usada em procedimentos mais abertos e invasivos e selar tecidos dinâmicos como vasos sanguíneos e o coração, além dos intestinos", disse à BBC um dos autores do estudo, Jeffrey Karp, do Brigham and Women's Hospital, em Boston, no Estado de Massachusetts.

Para Karp, além do potencial de substituir as suturas e grampos, a supercola "pode abrir a porta para uma maior adaptação em procedimentos minimamente abusivos".

O polímero adesivo desenvolvido pelos cientistas americanos, que é repelente de água e sangue, foi inspirado na habilidade de algumas criaturas, incluindo as lesmas, de aderir a superfícies usando secreções viscosas que funcionam mesmo com umidade.

Os pesquisadores testaram a cola no coração de porcos, que são semelhantes ao coração humano, durante uma cirurgia e descobriram que ela conseguiu reparar os defeitos no coração do animal.

Segundo Karp ainda são necessários mais estudos para garantir a segurança do uso da supercola em humanos, mas os resultados até o momento sugerem que a cola cirúrgica também poderá ser usada para fechar rapidamente feridas abertas.

Sanjay Thakrar, da organização de caridade britânica voltada para problemas cardíacos, a British Heart Foundation, afirmou que o sistema cardiovascular é um "ambiente dinâmico, onde há um fluxo de sangue contínuo e contrações do tecido, e as colas existentes com frequência não funcionam bem nestas condições".

"Estes pesquisadores parecem ter descoberto uma forma inovadora de superar estas questões, o que pode ser muito útil durante os procedimentos minimamente invasivos", afirmou.

Mas, para Thakrar, os cientistas americanos apenas avaliaram a eficácia da cola em um período curto e "é importante ver como a cola age em períodos maiores".

Vitamina E pode auxiliar na redução do declínio funcional na doença de Alzheimer leve a moderada

O ensaio clínico randomizado TEAM-AD VA, publicado pelo The Journal of the American Medical Association (JAMA), foi realizado com o objetivo de determinar se a vitamina E (alfa-tocoferol), a memantina ou ambos retardam a progressão dos sintomas em pacientes com doença de Alzheimer (DA) leve a moderada que fazem uso de um inibidor da acetilcolinesterase.

Embora já tenha sido demonstrado que a vitamina E e a memantina têm efeitos benéficos na doença de Alzheimer (DA) moderadamente grave, as evidências são limitadas na doença de Alzheimer leve a moderada.

O estudo clínico, duplo-cego, controlado por placebo, com grupos paralelos, envolvendo 613 pacientes com DA leve a moderada, foi iniciado em agosto de 2007 e concluído em setembro de 2012 em 14 centros médicos Veterans Affairs.

Os participantes receberam 2000 UI de alfa-tocoferol ao dia (n=152), 20 mg/dia de memantina (n=155), uma combinação dessas medicações (n=154) ou placebo (n=152).

Para avaliar os resultados foi usado o score Alzheimer’s Disease Cooperative Study/Activities of Daily Living (ADCS-ADL) Inventory (variação de 0 a 78). Os desfechos secundários incluíram medidas cognitivas, neuropsiquiátricas, funcionais e de cuidadores desses doentes.

Os dados de 561 participantes foram analisados (alfa-tocoferol=140, memantina=142, combinação=139,placebo=140), com 52 excluídos por falta de dados de acompanhamento. As conclusões mostram que entre os pacientes com DA leve a moderada, aqueles que receberam 2000 UI/dia de alfa-tocoferol em comparação ao grupo que recebeu placebo apresentaram declínio funcional mais lento. Não houve diferenças significativas entre os grupos que receberam apenas memantina ou memantina mais alfa-tocoferol.

Estes resultados sugerem benefícios do alfa-tocoferol na doença de Alzheimer leve a moderada, retardando o declínio funcional e diminuindo a sobrecarga para os que cuidam desses pacientes.

Fonte: The Journal of the American Medical Association, volume 311, número 1, 1° de janeiro de 2014 - NEWS.MED.BR, 2014.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Como gelar os vinhos mais rápido

Por Sommelière Wine Khátia Martins – blog Sommelier Wine

A combinação de sal e gelo ajuda a gelar mais rápido as bebidas. Verdade ou mito?

Há quem diga que na falta de um freezer ou adega climatizada, sal e gelo resolvem o problema. Não é mito, mas essa reação física endotérmica só é possível por que quando o sal entra em contato com o gelo ele rouba sua temperatura.

Dessa forma, ele age como um acelerador do derretimento e faz com que o gelo derreta a uma temperatura ainda mais baixa. Ou seja, com o gelo em estado líquido, aumenta a superfície de contato com a garrafa e, por isso, gela tudo muito mais rápido.

Mas atenção e cuidado para não deixar o sal cair dentro da garrafa ou até mesmo na taça na hora de servir o vinho!

Fica a dica para aproveitar melhor os seus vinhos e refrescar ainda mais as altas temperaturas do verão!

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Além de não trazer legado econômico, Copa pode ameaçar imagem, diz analista

Renata Mendonça - BBC Brasil

Estádio Mané Garrincha, em Brasília / Crédito da Foto: Portal da Copa

"A Copa será uma grande oportunidade para acelerar o crescimento e fundamental para o desenvolvimento do nosso Brasil", disse, em 2010, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dando o tom da grande expectativa sobre o papel que o torneio em junho/julho de 2014 poderia ter no país.

Mas a visão de que o evento possa estimular o crescimento ou o desenvolvimento de um país é questionada pelos autores de um livro que analisa o futebol em números e fala sobre o impacto de grandes eventos esportivos sobre a economia de nações que as sediaram.

"A ideia de que a Copa vai impulsionar a economia é um mito", disse à BBC Brasil o jornalista britânico Simon Kuper, autor de Soccernomics, escrito em parceria com o economista britânico Stefan Szymanski.

"Sediar uma Copa do Mundo não traz nenhum legado econômico. Se você quer impulsionar a economia com o dinheiro do povo, que paga impostos, é melhor investir em escolas e hospitais", disse Kuper.

Já para o Ministério do Esporte, porém, a Copa do Mundo é uma grande oportunidade para o Brasil acelerar investimentos em infraestrutura e qualificação de mão-de-obra. "São investimentos já previstos anteriormente, mas que foram antecipados por ocasião do Mundial", diz uma nota enviada pela assessoria da pasta à BBC Brasil.

 

Uma grande festa

Publicado em 2009 e baseado em dados das Copas de 2002 (Japão e Coreia do Sul) e 2006 (Alemanha), entre outros torneios, o livro de Kuper e Szymanski, que é economista da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, diz que o verdadeiro legado da Copa do Mundo não é dinheiro, nem bonança, mas a euforia que toma conta do povo antes e durante o torneio.

Brasil conquistou Copa das Confederações em 2013 /  Crédito da Foto: AFP

"O que a Copa realmente traz é essa alegria. A Copa do Mundo é uma grande festa, todos ficam felizes, o país vira uma grande comunidade, todo mundo só fala sobre isso, vive isso", explica Kuper, alertando que os brasileiros "sem eletricidade, sem ter o que comer" não estariam dispostas "a pagar por essa grande festa".

Segundo Kuper, os governos dos países "fingem" que acreditam no legado da Copa para ter apoio popular.

"Os governos não podem dizer para a sociedade que vão trazer a Copa porque é uma grande festa. Então eles falam do legado, do benefício econômico, que na verdade não existe. Eles têm que fingir", disse.

"O Brasil está tendo que fingir muito mais do que a Inglaterra teve para sediar a Olimpíada. A Inglaterra é um país mais rico, então as pessoas podem 'pagar' pela felicidade que os Jogos trazem."

O governo brasileiro, no entanto, acredita que o Mundial – que acontecerá entre 12 de junho e 13 de julho deste ano – já está gerando benefícios para o país. Em nota enviada à BBC Brasil, o Ministério do Esporte cita uma pesquisa feita pela Ernst&Young que já aponta números positivos da Copa.

"O levantamento indica que a preparação da Copa movimentará R$ 142,39 bilhões adicionais na economia nacional de 2010 a 2014, gerando 3,63 milhões de empregos."

'O Brasil não precisava da Copa'

Segundo o Comitê Organizador Local do torneio (COL) e o próprio governo, a Copa também será uma grande oportunidade para o mundo conhecer o Brasil e suas belezas.

Manifestantes protestam contra a Copa em frente ao Maracanã / Crédito da Foto: BBC

O Ministério do Turismo espera que 600 mil estrangeiros visitem o país durante a competição e acredita que esses turistas poderão atrair ainda mais gente para terras brasileiras nos próximos anos por causa da propaganda boca-a-boca.

No entanto, Simon Kuper ressalta que a África do Sul também esperava pelo menos 500 mil visitantes de fora do país e recebeu pouco mais de 300 mil.

O jornalista explica que, da mesma forma como os turistas da Copa poderão atrair mais visitantes para o Brasil, eles poderão também afastá-los – vai depender da impressão que terão do país durante o torneio.

"Eles podem falar bem ou falar mal. Há coisas maravilhosas no Brasil, é um país adorável, mas eu estive aí e tentei viajar de São Paulo para Manaus e foi uma coisa de louco, muito complicado", contou.

Segundo ele, o Brasil poderá sair da Copa até mesmo sem o "prestígio" que ela costuma render aos países que a recebem.

"O Brasil não está nem conseguindo o prestígio. Tudo o que os jornais internacionais mostram é que os estádios não estão prontos, que o Blatter está reclamando, etc. Há cinco anos, nós não sabíamos como era a infraestrutura do Brasil, agora nós sabemos que não está boa."

"O Brasil não precisava da Copa para se tornar conhecido. O Rio de Janeiro é umas das cidades mais visitadas no mundo todo. A Copa pode até piorar a imagem do Brasil", finalizou.

O Ministério do Esporte, porém, afirma que o Brasil já deu mostras de que não decepcionará os turistas durante a Copa das Confederações.

"O sucesso da Copa das Confederações comprova o acerto da escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo. As delegações foram bem recebidas, tiveram boas condições de treinos e alojamento, e os jogos transcorreram em paz", disse a assessoria da pasta, em nota.

Ataque cardíaco deixa ‘rastros de células’, indica pesquisa

BBC Brasil

Monitor de batimentos cardíacos em hospital (Arquivo/PA)

Pacientes que sofreram um ataque cardíaco apresentam células diferentes no sangue, segundo pesquisadores americanos.

O estudo, que envolveu 111 voluntários e foi publicado na revista especializada Physical Biology, conseguiu encontrar no sangue uma diferença entre os pacientes saudáveis e os que sofreram ataque cardíaco.

Agora, os pesquisadores do Instituto de Pesquisa Scripps, na Califórnia, estão tentando descobrir se esta diferença pode ajudar a prever um futuro ataque cardíaco.

Placas gordurosas se acumulam nas paredes dos vasos sanguíneos e podem se romper, liberando fragmentos para a corrente sanguínea. Isto pode bloquear o fluxo de sangue para os vasos em volta do coração e causar um ataque cardíaco.

Durante este processo, células endoteliais são liberadas no sangue, segundo os cientistas.

 

Ausentes nos saudáveis

Exames feitos em 79 pacientes depois de um ataque cardíaco foram comparados com os exames realizados em 25 pessoas saudáveis e outras sete que estavam passando por um tratamento para problemas nos vasos sanguíneos.

"O objetivo desta pesquisa foi estabelecer provas de que estas células endoteliais circulando (no sangue) podem ser detectadas em pacientes depois de um ataque cardíaco e não existem em (pacientes) saudáveis, o que nós conseguimos", afirmou um dos pesquisadores, Peter Kuhn.

"Nossos resultados foram tão significativos em relação aos (pacientes de) controle saudáveis que o próximo passo mais óbvio é avaliar a utilidade do exame para identificar pacientes nos primeiros estágios de um ataque cardíaco", acrescentou.

Para Mike Knapton, da organização britânica especializada em campanhas de esclarecimento relacionadas à saúde do coração, a British Heart Foundation, "é improvável que (a descoberta) mude a forma como as pessoas são tratadas na Grã-Bretanha" no curto e médio prazo.

"Já temos boas maneiras de tratar e diagnosticar ataques cardíacos e metas para garantir tratamento rápido", afirmou.

"Este estudo parece estabelecer as bases para pesquisas futuras para verificar se este exame pode ser usado para identificar pacientes nos primeiros estágios de um ataque cardíaco", acrescentou.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Projeto de lei que legaliza eutanásia de crianças divide Bélgica

Linda Pressly –BBC Brasil

A Bélgica legalizou o direito à eutanásia para adultos em 2002. Agora, o Senado votou a favor da extensão da lei para menores que estejam em estado terminal e sofrendo de dores físicas insuportáveis. Para ser lei, o projeto ainda precisa ser aprovado pela Câmara Baixa.

Para defensores da idéia, trata-se de uma ação "lógica", que para opositores é vista como "loucura".

Para muitas pessoas, o cenário que combina uma criança com uma doença incurável, um pedido para morrer, e uma injeção letal, é um quadro inimaginável.

Mas a deterioração e o sofrimento de uma criança com uma grave doença e em estado terminal é uma realidade, que levou pediatras belgas a pedir que crianças pudessem, também, ser autorizadas a pedir para acabar com suas vidas, caso não possam ter seus sintomas físicos aliviados.

"É raro, mas acontece. Há crianças que tentamos tratar, mas não há nada que possamos fazer para se sentirem melhor. Essas crianças devem ter o direito de decidir sobre o fim de suas vidas", diz Gerlant van Berlaer, pediatra na Universidade Ziekenhuis.

Ele e outros 16 pediatras belgas assinaram uma carta aberta, em novembro, pedindo que o Senado votasse a favor do projeto de lei que autoriza a eutanásia infantil.

"Nós não estamos brincando de ser Deus, estas são vidas que vão acabar de qualquer maneira", argumenta Van Berlaer. "O seu fim natural pode ser miserável ou muito doloroso e terrível, e elas podem ter visto vários amigos em instituições, ou hospitais, morrerem da mesma doença. E se elas dizem, 'eu não quero morrer dessa maneira, quero fazer do meu jeito', como médicos, se é a única coisa que podemos fazer por elas, acho que devemos ter o poder de fazê-lo."

Último gesto de bondade

De acordo com o projeto de lei, aprovado no Senado no mês passado por 50 votos a 17, as crianças devem entender o que a eutanásia significa, e o pedido para morrer deve ser aprovado por seus pais e equipes médicas.

Na Holanda, país vizinho, a eutanásia é legal para crianças com mais de 12 anos caso elas tenham o consentimento de seus pais. Mas, se o projeto de lei belga for passado na Câmara Baixa do Parlamento, a Bélgica será o primeiro país do mundo a eliminar as restrições para todas as idades.

Philippe Mahoux, líder do grupo socialista no Senado e principal defensor do projeto de lei, e medida seria "o derradeiro gesto de bondade".

"O escândalo é que crianças vão morrer de doenças", diz ele. "O escândalo não é tentar evitar a dor das crianças nessa situação."

Uma senadora que votou contra o projeto de lei, a democrata-cristã Els Van Hoof, acredita que o projeto é baseado em uma ideia equivocada de autodeterminação, de que todos têm o direito de tomar decisões não só sobre como vivem, mas também sobre como morrem.

Ela discorda da ideia e, juntamente com um grupo de outros senadores, lutou, com sucesso, para restringir o escopo do projeto de lei a crianças com doenças terminais sofrendo dor física insuportável.

"No início, eles apresentaram uma lei que incluía crianças com doenças mentais", diz ela. "Durante o debate, os defensores da eutanásia falaram sobre crianças com anorexia, crianças que estão cansados da vida."

No caso da eutanásia adulta, ela teme que estejam sendo abertos precedentes "escorregadios". A lei de 2002 permite que adultos optem por acabar com suas vidas, se eles:

  • são competentes e conscientes
  • fazem o pedido repetidamente
  • sofrem de dor, física ou mental, insuportável por conta de uma doença grave e incurável

Mas Van Hoof cita dois casos recentes que a fizeram questionar essas regras.