sábado, 11 de abril de 2015

Estar acima do peso reduz risco de demência, diz estudo

Obesidade (Foto: PA)

Estar acima do peso diminui o risco de Mal de Alzheimer, de acordo com a maior e mais precisa investigação sobre essa relação.

Os pesquisadores admitiram ter ficado surpresos com a descoberta, que vai contra a corrente atual dos aconselhamentos da medicina.

A análise de dados de quase dois milhões de britânicos, publicada pela revista médica Lancet Diabetes & Endocrinology, mostrou que pessoas abaixo do peso correm um risco maior de desenvolver a doença.

Mesmo assim, organizações dedicadas ao tratamento da demência aconselham que é preciso se exercitar, ter uma dieta balanceada e não fumar.

A demência é uma das questões que gera maior pressão sobre a medicina moderna. O número total de pacientes no mundo pode triplicar e chegar a 135 milhões em 2050.

Atualmente não há cura para a doença. Os médicos aconselham que se mantenha um estilo de vida saudável para tentar diminuir o risco de desenvolvê-la. Mas essa recomendação pode estar equivocada.

Surpresa

A equipe, formada por cientistas da empresa Oxin Epidemiology e da universidade London School of Hygiene and Tropical Medicine, analisou registros médicos de 1,9 milhão de pessoas com cerca de 55 anos por um período de duas décadas.

A análise mais conservadora feita pelos pesquisadores diz que pessoas abaixo do peso têm um risco 39% maior de desenvolver demência em relação àqueles que estão com um peso saudável.

Mas aqueles que estavam com sobrepeso tiveram uma taxa de redução de risco de 18%. Nos obesos, o percentual foi de 24%.

"Sim, isso é uma surpresa", disse o pesquisador Nawab Qizilbash.

"O lado controverso é a constatação de que pessoas acima do peso ou obesas têm um risco menor de desenvolver demência que uma pessoa normal, com um índice de massa corporal sudável."

"Isso vai de encontro à maioria, senão a todos os (resultados de) estudos que foram feitos, mas se você compará-los todos juntos, nosso estudo os supera em termos de tamanho e precisão", disse ele.

A explicação de como o maior peso tem um efeito protetor em relação à demência ainda não está totalmente clara. Há algumas teorias de que deficiências das vitaminas D e E contribuem para a demência – e essas deficiências são menos comuns para quem come mais.

Mas Qizilbash disse que o resultado da pesquisa não deve ser encarado como uma desculpa para engordar alguns quilos.

"Você não pode virar as costas e pensar que não tem problema ficar acima do peso ou obeso. Mesmo que haja esse efeito protetor, você pode não viver o suficiente para se beneficiar dele", disse ele.

Comparação entre cérebro com demência e cérebro sadio (Foto: SPL)

Estudo deixa perguntas sem resposta

Essas descobertas vieram de surpresa não só para os pesquisadores que fizeram o estudo.

Mas segundo James Gallagher, editor de saúde da BBC News, a pesquisa deixa muitas questões não respondidas.

A gordura realmente protege ou há algum outro fator de proteção desconhecido que poderia ser usado em um eventual tratamento?

Os resultados não parecem ser uma desculpa para comer uma fatia a mais de bolo.

Tanto a Associação de Alzheimer quanto a organização Alzheimer Research UK vieram a público encorajar as pessoas a se exercitarem, pararem de fumar e terem uma dieta balanceada.

Doença cardíaca, infarto, diabete, alguns cânceres e outras doenças estão todas ligadas à gordura na região do abdome.

"Essas novas descobertas são interessantes na medida em que parecem contrariar estudos anteriores ligando obesidade a risco de demência", disse Simon Ridley, um pesquisador britânico de Alzheimer.

"O resultado levanta dúvidas sobre as ligações entre peso e risco de demência. Claramente mais pesquisas são necessárias para entender isso completamente."

A Sociedade de Alzheimer disse que "a diferença de conclusões (nos estudos) ressalta a dificuldade de conduzir estudos sobre riscos de demência relacionados a complexos estilos de vida".

A professora Deborah Gustafson, do hospital e escola de medicina SUNY Downstate Medical Center de Nova York, argumentou que "entender a ligação entre índice de massa corporal e demência ajuda a ver a complexidade de se identificar os riscos e fatores de proteção de demência".

"O relatório de Qizilbash e seus colegas não é a palavra final nesse ponto controverso", disse ela.  Qizilbash afirmou: "Nós concordamos com isso inteiramente".

Fonte: BBC Brasil

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