quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Reflexões sobre a suplementação de vitamina D e seus efeitos benefícios não esqueléticos

Ensaios clínicos randomizados em andamento estão avaliando se realmente a suplementação de vitamina D pode reduzir o risco para várias doenças não-esqueléticas. Estes estudos têm envolvido grande número de participantes e vão custar milhões de dólares. O estudo VITAL, por exemplo, vai contar com a participação de mais de 20.000 indivíduos e tem um fundo de financiamento de cerca de 22 milhões de dólares. Este grande esforço de pacientes, pesquisadores e financiadores é louvável, uma vez que é quase certo que será suficiente para responder a uma pergunta que tem mantido há muito tempo a comunidade médica em dúvida.

A vitamina D primeiramente se tornou um sucesso quando sua importância na saúdeóssea e na homeostase do cálcio foi comprovada há décadas. Desde então, as evidências epidemiológicas vêm apoiando o papel de proteção da vitamina D contra várias doenças não-esqueléticas, incluindo câncer, doenças cardiovasculares, doenças autoimunes e inflamatórias, demência e diabetes mellitus; ela também parece poder reduzir a mortalidade por todas as causas. Muitos desses estudos mostram uma forte associação entre a baixa concentração de vitamina D e doenças. No entanto, os resultados de pequenos ensaios randomizados e controlados recentes são quase unânimes em concluir que a suplementação de vitamina D oferece proteção contra poucas ou mesmo nenhuma dessas doenças.

A vitamina D é um hormônio esteroide com efeitos pleiotrópicos e em tecidos específicos, devido à grande expressão do receptor nuclear de vitamina D em diferentes tecidos e os muitos genes que são alvo de suas ações. No sistema esquelético, a vitamina D promove o desenvolvimento saudável e a remodelação do osso. Em outros tecidos, acredita-se que a vitamina D possa mediar efeitos potencialmente benéficos através de uma ampla variedade de mecanismos: algumas evidências sugerem que ela exerce uma atividade anticancerígena, limitando a hiperproliferação de certos tipos de células, que promove a saúde metabólica pela regulação do metabolismo lipídico nos adipócitos e que limita a autoimunidade pela supressão de respostas imunes inadequadas.

Em uma revisão sistemática na revista The Lancet Diabetes & Endocrinology, Philippe Autier e colegas discutiram um grande número de estudos observacionais sugerindo que altas concentrações séricas devitamina D podem ser protetoras. Por exemplo, os indivíduos com altas concentrações de vitamina D têm diminuído o risco de eventos cardiovasculares (até 58%), diabetes (até 38%), câncer colorretal (até 33%) e de todas as causas de mortalidade (até 29%). No entanto, eles também comparam estes resultados com os resultados de ensaios clínicos randomizados que revelam um quadro muito diferente: nenhuma redução de risco foi encontrada, mesmo em estudos envolvendo a suplementação adequada dos participantes com níveis baixos de vitamina D no início do estudo (menos de 50 nmol/L). Autier e colegas também fizeram uma nova meta-análise de 16 estudos que avaliaram os efeitos da suplementação de vitamina D nos níveis sanguíneos de hemoglobina glicosilada (HbA1c), um biomarcador utilizado principalmente para monitoramento de distúrbios do metabolismo da glicose. Embora o diabetes tipo 2 esteja associado a baixos níveis de vitaminaD, os resultados mostram que a suplementação de vitamina D não reduz os níveis sanguíneos de HbA1c . Assim, parece cada vez mais provável que o baixo nível de vitamina D não é uma causa, mas uma consequência de problemas de saúde.

Apesar das crescentes evidências indicando que é improvável que a vitamina D evite doenças não-esqueléticas, existe um forte apoio para a sua utilização a partir de muitos membros da comunidade de pesquisa, que é alimentado pela toxicidade relativamente baixa da vitamina D e pelas evidências de estudos observacionais prospectivos. Para aqueles que "acreditam", a falta de benefícios encontrada na maioria dos estudos concluídos até agora pode ser atribuída a questões como a suplementação inadequada, o teste em uma população com ausência de deficiência de vitamina D no início do estudo, a formulação incorreta davitamina ou acompanhamento insuficiente dos participantes. No entanto, a vitamina D pode não ser segura em todos os casos. A suplementação em doses elevadas pode causar danos em pessoas com concentrações de vitamina D já elevadas, particularmente naqueles com problemas hepáticos, renais ou vasculares. Esta é uma preocupação, dado o grande número de pessoas que tomam suplementos de vitamina D (mais de 50% dos adultos nos EUA fazem esta suplementação).

Fonte: The Lancet Diabetes & Endocrinology, volume 2, número 1, de janeiro de 2014 - NEWS.MED.BR, 2014.

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