quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Cientistas evitam cegueira graças a terapia genética

Pallab Ghosh - BBC News

Cirurgiões de Oxford, na Grã-Bretanha, usaram uma técnica de terapia genética para melhorar a visão de seis pacientes que, caso contrário, teriam ficado cegos.

O tratamento, que envolve inserir um gene dentro das células dos olhos, é responsável por restaurar as células que detectam luz.

Os médicos envolvidos acreditam que o tratamento pode, eventualmente, ser usado para tratar formas comuns de cegueira.

Robert MacLaren, o cirurgião que liderou a pesquisa, disse que ele estava "muito contente" com o resultado.

"Nós realmente não poderíamos pedir por resultado melhor", disse ele.

A BBC deu a notícia, exclusivamente, quando os testes clínicos começaram há dois anos. O primeiro paciente foi Jonathan Waytt, que na época tinha 63 anos.

Wyatt tem uma condição genética conhecida como choroideremia, que resulta na morte gradual das células que detectam luz localizadas no fundo do olho.

Visão melhorada

Wyatt ainda enxergava um pouco quando fez a cirurgia. Sua esperança era de que o procedimento evitaria que sua visão continuasse deteriorando e salvaria a pouca capacidade de enxergar que lhe restava.

Ele, assim como outro paciente que participou do teste clínico de MacLaren, descobriu que a cirurgia não apenas estabilizou, como também aperfeiçoou, sua visão. Os outros pacientes, que ainda viviam os primeiros estágios da cegueira, tiveram melhoras em sua capacidade de enxergar à noite.

Wyatt é agora capaz de ler três linhas a mais em um teste de visão.

"Eu me sentia na beira de um abismo", ele disse à BBC.

"Eu enxergava a escuridão. MacLaren bateu no meu ombro e disse 'venha por aqui, é possível enxergar novamente'."

Depois do tratamento, Wyatt passou a enxergar três linhas a mais em um teste de visão

A mulher de Wyatt, Diane, confirmou que a perspectiva de cegueira total o deixou muito deprimido.

"Ele agora está muito otimista", ela explicou.

"Ele está mais independente, ele consegue encontrar coisas que não conseguia antes, consegue sair sozinho, e deixou de ser um incômodo!"

Outro paciente que participou do tratamento, Wayne Thompson, disse que ele notou um resultado imediato depois da cirurgia.

Vendo estrelas

"Minha visão colorida melhorou. Árvores e flores parecem muito mais vivas, e eu consegui ver estrelas pela primeira vez desde que eu tinha 17 anos, quando a minha visão começou a deteriorar", ele disse à BBC.

Thompson disse que ele passou a vida conformado com o fato de que ficaria cego.

"Eu vivi os últimos 25 anos com a certeza de que eu vou ficar cego, e agora (depois da operação) existe a possibilidade de continuar enxergando", ele disse.

Quando Thompson foi diagnosticado pela primeira vez, disseram que não conseguiria ver sua filha, que agora tem nove anos, crescer.

"Eu agora espero conseguir ver meus netos crescerem", disse Thompson.

Se os pacientes continuarem a melhorar, o objetivo é oferecer o tratamento à pacientes mais jovens com choroideremia, para evitar que eles percam a visão.

A condição é relativamente rara: acredita-se que mil pessoas são afetadas na Grã-Bretanha.

Mas MacLaren acredita que o sucesso com os casos de choroideremia demonstra que a terapia genética pode ser usada para curar outras formas de cegueiras genéticas, incluindo a degeneração macular ligada a idade.

Essa condição causa cegueira em 300 mil pessoas na Grã-Bretanha, e causa a deterioração na visão de uma em quatro pessoas com mais de 75 anos.

"Os mecanismos da choroideremia, e o que estamos tentando fazer com o tratamento, seriam, provavelmente, aplicáveis a casos de cegueira mais comuns", explicou MacLaren.

"A choroideremia tem algumas similaridades com a degeneração macular, já que procuramos atingir as mesmas células. Nós ainda não sabemos quais os genes devemos atingir na degeneração macular, mas nós sabemos como fazer e como colocar os genes de volta."

Clara Aglen, do Royal National Institute of Blind People, também está, cautelosamente, otimista.

Ela disse à BBC: "No momento, a terapia está em estágio inicial, mas oferece esperança para pessoas com condições genéticas, como a degeneração macular e glaucoma."

"Enquanto esse processo avança, existe a esperança de que pode ser usado, e prover a cura, para causas comuns de cegueira."

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